A Dor do Vizinho

 

"Os soluços de um hemisfério repercutem no outro.
 A dor do vizinho é uma advertência para a nossa casa."

(Emmanuel - "Fonte Viva")

 

Perigosa onda de belicosidade varre a Terra, do Hemisfério Sul ao Norte, deixando-nos intranquilos quanto à estabilidade da paz em nosso mundo tão conturbado.

    Os soluços de um hemisfério repercutem no outro —   diz Emmanuel — e a dor do vizinho é uma advertência para a nossa casa.

    Resta-nos analisar as razões desses soluços; que advertências são essas e o que podemos caracterizar como “nossa casa”, para entendermos a profundidade da colocação do benfeitor espiritual.

    Esses soluços são geral­mente ocasionados por dois tipos de sentimentos: arrependimento ou frustração. Ambos são decorrentes de uma sensação de menos valia proporcionada pela dor ou pela derrota.

    Há que se observar, portanto, qual foi o móvel da actuação humana que facultou colheita tão dolorosa, tão cheia de espinhos.

    Eis o egoísmo, fonte de todas as desgraças e de todos os defeitos, É na manifestação do egoísmo que se en­gendra a guerra, pois a mesma nada mais é do que a náusea de uma doença so­cial cujo preventivo precisa ser adrede aplicado em nós mesmos.

    As advertências assinala­das por Emmanuel funcionam como uma vacina ex­traída do mal que acometeu os nossos vizinhos, mas que pode estar em latência dentro do nosso psiquismo. Somos suficientemente evoluídos para não recalcitrar nos mesmos erros que levaram os nossos vizinhos a uma guerra de tão graves consequências? Claro que não. Então precisamos, com cal­ma, analisar os porquês da derrocada e aplicar-nos o preventivo contra a guerra.

     São as seguintes as advertências inolvidáveis, públicas e notórias:

  a) todos os habitantes da Terra são filhos de Deus e, como tal, não se podem perder de vista os códigos de fraternidade entre ir­mãos;

  b) há sempre que se pe­sar o custo social de uma medida política, para que não se trans­formem em sangue as melhores esperanças de um povo progressista e pacífico;

  c) precisa-se, com urgência, investir na Edu­cação do povo, pois, mais esclarecido e burilado, poderá movimentar melhor a alavanca do progresso e diminuir as diferenças sociais que há tanto tempo fomentam desagradáveis desastres na harmonia do povo;

  d) carece-se de estimular a Família a uma união indispensável e a um maior zelo para com seus filhos, ensinando-lhes, desde o berço, o caminho do Evangelho, como verdadeiro preventivo para as beligerâncias urbanas;

  e) rever os sistemas e os regimes que engendram tanta problemática no organismo social, possibilitando ao povo respirar liberdade com responsabilidade, artigo primeiro de uma verdadeira civilização;

  f) cada cidadão deve buscar sua própria reformulação interior, visando ao progresso individual e consequente evolução geral.

  Emmanuel nos diz, na citada mensagem, que “o erro de um irmão, examinado nos fundamentos, é igual­mente nosso, porque somos componentes imperfeitos de uma sociedade menos per­feita, gerando causas perigosas e, por isso, tragédias e falhas dos outros afectam-nos por dentro”.

    Lembremo-nos de que a actuação do espírita neste contexto é muito importante. Isto porque temos a obrigação social de ser elementos positivos no concerto das acções públicas. Sendo a finalidade da Doutrina Espírita a reformulação interior do homem, cabe ao postulante da mesma exemplificar de todos os modos possíveis esta finalidade em todos os campos de actuação. Assim sendo não se justificam omissões ou agressões no contexto social, e nem partidarismos, sectarismos ou pessimismos de qualquer natureza.

    A “nossa casa” é a Terra—oficina e hospital; educandário e prisão. Os nossos vizinhos são os nossos ir­mãos, endividados e envolvidos todos, sem excepção, na augusta determinação do Pai que é Nosso...

    Vejam que quando Jesus­ Cristo nos ensinou a orar — instrumento excelente da paz e do equilíbrio —, no simples pronome possessivo, o Mestre exaltou a comunidade, pois “depois de Deus, a Humanidade será o te­ma fundamental de nossas vidas”. (1)  

 

(1) Belíssima análise do Pai Nosso de Jesus Cristo, feita por Emmanuel na página em epígrafe.
 ("Fonte Viva" - Pai Nosso, cap. 77, pág. 181, 10. ed. FEB.

Júlio César de Sá Roriz

Revista "Reformador", abril/83

 
 

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