Seres com poderes sobre-humanos.
Quantos de nós não sonhamos, talvez na infância, em sermos
herói, como o Super-Homem, Capitão América, He-Man, Mulher
Maravilha, Batman? Ou então, mais recente, ser um Goku, uma
Menina Super-Poderosa ou Ash? Estes personagens atiçam nossa
imaginação pela capacidade de superação e auto-superação que
representam.
O filme Homem Aranha 2, lançado
recentemente, apresenta a segunda adaptação para o cinema do
super-herói das histórias em quadrinhos da Marvel. Peter
Parker é um jovem estudante que adquire superpoderes depois de
ser picado por uma aranha geneticamente modificada,
tornando-se capaz de lançar teias através dos pulsos, escalar
prédios com as mãos, aguçar seus sentidos, e possuir uma
estrutura física quase indestrutível.
Consciente de que seus poderes eram uma
bênção para que os utilizasse para o bem, Peter inicia sua
carreira de combate ao crime, assumindo um traje que o
deixaria anónimo para o mundo, inclusive para as pessoas mais
próximas. Entretanto, esta opção leva-o a vários sacrifícios,
que são mostrados no filme. Inicialmente, Peter é forçado a
escolher entre o amor da apaixonada Mary Jane Watson e o seu
dever como super-herói. Os dois caminhos são inconciliáveis,
pois “o Homem-Aranha tem muitos inimigos. Nunca me
perdoaria se, descoberta minha verdadeira identidade, algum
mal lhe acontecesse [a Mary Jane] a fim de atingir-me”. Além
disso, falta-lhe tempo para os passeios e compromissos com sua
amada. Assim, opta por afastar-se dela, pois a
responsabilidade de sua missão lhe pesa mais na
consciência.
Exausto pelas patrulhas que realiza
todo o tempo, Peter relaxa nos estudos e pode ser reprovado na
faculdade. Além disso, seus problemas financeiros se agravam
quando é demitido do emprego de entregador de pizza e de
fotógrafo do jornal Clarin Diário. Sem dinheiro para pagar o
aluguer, sua reputação ainda desmorona, pois as pessoas mais
próximas começam a acreditar que o jovem tornou-se preguiçoso
e egoísta. Para terminar a sequência, vê Mary Jane
desiludir-se com suas desculpas freqüentes e tornar-se noiva
de outro homem.
O filme apresenta, enfim, um
super-herói muito próximo a qualquer um de nós, muito humano.
Estes problemas levam-no a uma crise de stress que lhe
consome os superpoderes. A bênção havia se tornado um problema
e Peter decide encerrar sua carreira de herói. Agora, gostaria
de ser como os outros, como qualquer humano. Aos poucos, esta
convicção lhe enfraquece os superpoderes até perdê-los
completamente.
Quantas vezes nos encontramos em
situação parecida, tendo que optar entre cumprir o dever que
nos compete enquanto heróis e atender a “satisfação” ociosa de
uma vida demasiadamente humana. Talvez não estejamos ainda
preparados para a abrangência de acção dos super-heróis - a
humanidade -, ou de homens como Gandhi, Martin Luther King
Júnior, Francisco Cândido Xavier. No entanto, em nossa própria
esfera de acção existe a possibilidade de sermos algo a mais do
que somos, sem necessidade de deixar de lado as nossas
obrigações cotidianas.
O que o Homem-Aranha descobriria depois
é que dependia apenas do seu querer ter superpoderes ou não.
Os sacrifícios seriam muitos, colheria a incompreensão, a
ingratidão, o descaso, a solidão. Tudo isto lhe incomodava,
mas a consciência do dever lhe reclamava o desenvolvimento de
suas capacidades, tornando-se um exemplo de superação para a
criançada no filme. Era aquele que se destacava da multidão
pelo desinteresse pessoal e pela acção no bem, sensível às
dores do mundo, mas sujeito também a entrar em crises e
questionamentos.
O nosso mundo - não mais o das
histórias em quadrinhos - demanda a acção destes
heróis-superação que possam atender aos sofrimentos causados
pela indiferença, pelo egoísmo, tornando-se exemplos vivos de
humanos capazes de tornarem-se sobre-humanos, na acção de
auto-superação dos sentimentos derivados do homem velho (os
verdadeiros vilões) que atrasam a marcha evolutiva do
Espírito.
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