CURSO – DEUS E A CRIAÇÃO
 

 
 
 
 
 
 

DEUS E A CRIAÇÃO


"No princípio, criou Deus os céus e a terra. A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas" - (Gênesis, cap. 1 - 1 e 2).

1.0 - A OBRA DE DEUS

Desde os tempos em que a humanidade vivia em cavernas o homem admira-se perante a grandiosidade do Universo.

Ernest Renan, um historiador e filólogo francês do século XIX, em sua magnífica obra A Vida de Jesus, afirma: "Desde que o homem se diferenciou do animal, tornou-se religioso, ou seja, ele percebeu que na natureza havia algo além da realidade e, em si mesmo, algo que estava além da morte". Por isso, o ser humano sempre buscou respostas sobre a origem das coisas e quis saber a respeito de quem teria sido o supremo arquitecto dos céus, dos montes, dos mares, da natureza etc. A Doutrina Espírita, como veremos, nos oferece seguras respostas a esses questionamentos.

a) Que é Deus

Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. Criou tudo o que há. É o único princípio não criado. Sempre existiu.

As leis da Física demonstram que um determinado efeito nunca é anterior à causa. No caso da Criação, pode-se concluir que ela é consequência da acção de um princípio lógico, que se encadeia de forma inteligente. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente.

O homem, observando o mundo que o cerca, pode deduzir através da razão, que aquilo que o criou deve ser inteligente e superior a tudo o que existe. A essa causa primária denominou-se "Deus". Podemos reconhecer Deus observando e estudando suas obras.

"Lançando o olhar em torno de si, sobre as obras da Natureza, observando a previdência, a sabedoria, a harmonia que preside a todas as coisas, reconhecemos que nenhuma há que não ultrapasse o mais alto alcance da inteligência humana. Ora, desde que o homem não as pode produzir, é que elas são o produto de uma inteligência superior à humanidade, a não ser que admitamos haver efeito sem causa" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. II, item 5).

b) Atributos da Divindade

Não é dado ao homem, dentro da impotência em que se encontra, atingir toda a magnitude da natureza íntima de Deus. Por muito tempo, o homem julgou Deus à sua imagem e semelhança, dando a ele a aparência humana, bem como suas imperfeições, moldando um Deus colérico, vingativo e ciumento. Entretanto a Divindade possui atributos próprios de sua natureza suprema. Deus não se mostra, mas afirma-se mediante suas obras, diz Kardec. Diante disso, pode-se afirmar que:

Deus é eterno: Ou seja, não teve começo e não terá fim. Se Ele tivesse tido um começo, teria saído do nada. O nada, sabemos, não existe. Deus é o ser absoluto, eterno, a própria eternidade.

Deus é imutável: Se Ele fosse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam estabilidade. Sua imutabilidade é o alicerce das leis físicas e morais.

Deus é imaterial: A natureza de Deus difere de tudo o que chamamos matéria, pois de outra forma Ele não seria imutável e suas leis estariam sujeitas às transformações da matéria.

Deus é único: Se existissem muitos deuses, não haveria unidade de vistas, nem de poder na organização do Universo. Se existisse um outro Deus, teria que ser igualmente infinito em todas as coisas, caso contrário nem um nem outro teria a soberana autoridade. Os povos antigos, por ignorância, acreditavam na existência de muitas divindades e associavam-nas às forças da natureza, às montanhas, aos mares, às matas, aos astros etc.

Deus é todo poderoso: Se não tivesse o poder soberano, haveria alguma coisa mais poderosa ou tão poderosa quanto Ele, que assim não teria a supremacia sobre a Criação, deixando de ser Deus. Aquelas obras que Ele não tivesse feito, seriam obrigatoriamente feitas por outro deus. Portanto Deus é todo poderoso porque é único.

Deus é soberanamente justo e bom: A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas menores como nas maiores coisas que cercam o ser humano, e esta sabedoria não permite que se duvide de Sua justiça nem da Sua bondade.

Deus é infinitamente perfeito: Conceber Deus sem essa perfeição infinita é ter que admitir que exista algo ainda mais perfeito. Se retirássemos a menor parcela de um de seus atributos, já não teríamos Deus, pois poderia existir um ser mais perfeito.

"Deus é, pois, a suprema e soberana inteligência; é único, eterno, imutável, imaterial, omnipotente, soberanamente justo e bom, infinito em todas as suas perfeições, e não pode deixar de ser assim. Tal é o eixo sobre o qual repousa todo o edifício universal; é o farol do qual os raios se estendem sobre o universo inteiro, o único que pode guiar o homem em sua pesquisa da verdade; ao segui-lo, não se extraviará nunca; e se tem se desencaminhado com tanta frequência, é por não ter seguido o caminho que lhe é indicado" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. II, item 19).

Se é possível crermos na existência de um Ser superior que criou o mundo onde vivemos e o Universo que nos cerca, e que nos concedeu oportunidade de vida e progresso, seria lógico e racional nos esforçarmos no sentido de compreendê-lo. Esta é a meta do aprendizado espírita.

A Religião deveria se configurar numa instituição de grande importância para a humanidade, porém, seu sentido acabou sendo desvirtuado pelos homens. Sua função seria a de transmitir os ensinamentos divinos aos seres humanos, libertando-os da escravidão das ideias materialistas, que o atrelam a um mundo de ilusões transitórias, sem compreender o verdadeiro sentido da vida.

Não existe ainda na linguagem humana, palavras que possam definir a verdadeira natureza de Deus. O Espiritismo nos faz analisar isso com muito mais racionalidade, porém ainda não é o ideal. Quando o Espírito atinge o estágio de Espírito Puro, ele compreende o Criador de modo mais amplo. Até lá, sua ideia a respeito do Pai é apenas relativa ao seu grau de adiantamento.

1.1 - O ESPÍRITO

O Espírito é o princípio inteligente da Criação. No plano material, ele está presente em todo elemento vivo. Os Espíritos são criados simples e ignorantes. Todos estão sujeitos à Lei da Evolução. Em fases primitivas, não pensam, mas movem-se por sensações. Mais tarde, são dirigidos pelo instinto; depois, pela inteligência; e, por fim, chegam à razão e à angelitude.

Os Espíritos são os seres inteligentes da Criação. Habitam o Universo em variados estágios de desenvolvimento e diversas categorias de mundos. Foram criados simples e ignorantes, isto é, sem sabedoria e sem a consciência do bem e do mal. São dotados de aptidões para adquirir o conhecimento intelectual e moral através de encarnações.

No princípio, o Espírito é como uma criança, sem vontade própria definida. Depois, aos poucos, vai se tornando livre através das experiências reencarnatórias. Não é divisível, nem tem sexo. Não é palpável, embora não seja o nada, pois o nada não existe. É errado confundi-lo com a inteligência. Os dois se interagem, mas, na verdade, a inteligência é um atributo do Espírito.

Quando encarnado, o Espírito recebe a definição de Alma. Desencarnado e habitando o plano espiritual à espera de uma nova encarnação, diz-se que está "errante". Apenas os Espíritos puros não são errantes, pois não necessitam mais da experiência reencarnatória.

É importante destacar que é na matéria que o Espírito é testado em suas potencialidades, embora continue progredindo na dimensão espiritual. No plano invisível, pode estudar em cursos ministrados nas colónias transitórias e ter uma visão mais ampla dos conhecimentos, mas terá que colocar em prática, na matéria, as lições aprendidas. A Terra é uma grande escola onde todos os homens e seres vivos crescem para Deus.

"O Espírito progride igualmente na erraticidade. Nela adquire conhecimentos especiais que não poderia adquirir na Terra. Suas ideias então se modificam. O estado corpóreo e o estado espiritual são para ele as fontes de duas formas de progresso que se desenvolvem solidárias. É por isso que ele passa alternativamente por esses dois modos de existência" - (Allan Kardec - O Céu e O Inferno, cap. III, item 10).
a) Natureza dos Espíritos

"Dizemos que os Espíritos são imateriais porque a sua essência difere de tudo o conhecemos pelo nome de matéria" - (Allan Kardec - O Livro dos Espíritos, item 82).

Os Espíritos são de natureza etérea. Pode-se afirmar que são uma chama, uma centelha ou um clarão. A linguagem humana é muito limitada para exprimir sua verdadeira essência. Não se deve defini-lo como imaterial, pois que é algo. Quando nos referirmos ao Espírito, seria mais apropriado usarmos o termo "incorpóreo’’.

Os Espíritos foram criados por Deus. São, pois, constituídos de alguma coisa. Como e quando foram criados constituem-se em mistérios não revelados. Existem algumas teorias que tentam explicar a origem dos Espíritos, mas não o fazem com clareza, por falta de referenciais que possam exprimir certas ideias abstractas.

Qual seria o destino final do Espírito, depois que atingem a condição de Espíritos puros? Esta pergunta foi feita por Allan Kardec ao Espírito de Verdade, que deu a seguinte resposta:

"Há muitas coisas que não compreendeis, porque a vossa inteligência é limitada; mas não é isso razão para as repelirdes. O filho não compreende tudo o que o pai compreende, nem o ignorante tudo o que o sábio compreende. Nós te dizemos que a existência dos Espíritos não tem fim; é tudo quanto podemos dizer, por enquanto" - (O Livro dos Espíritos, questão 83).

1.2 - A MATÉRIA

A matéria é uma das variações de um elemento básico primitivo chamado "fluido universal", que estudaremos mais adiante. Ela existe em diversos estados na natureza variando infinitamente da ponderabilidade à imponderabilidade ou eterização. Não podemos defini-la apenas como aquilo que tem extensão, impenetrabilidade e que impressiona os sentidos físicos, como afirma a Ciência. A matéria também pode existir numa condição tão etérea e subtil, a ponto de não ser percebida pelos sentidos convencionais.

A matéria é o meio através do qual os Espíritos desenvolvem suas potencialidades e manifestam suas obras. Kardec diz que a matéria é o agente, o intermediário, com a ajuda do qual e sobre o qual o Espírito atua.

a) O Universo

Com o progresso da Ciência, descobriu-se certas leis e princípios que vieram explicar muitos mistérios existentes, quanto à origem do mundo e do Universo. Ficou demonstrado, por exemplo, que a Criação não se resumia na região circunvizinha à Terra, como a princípio se pensava. Havia no espaço distante muito mais. Planetas, cometas, estrelas, nebulosas e galáxias formam esse majestoso conjunto chamado Universo.

A humanidade progride constantemente no campo científico, facilitando a evolução do homem e da própria sociedade. Aos poucos, os véus dos mistérios vão sendo levantados e o homem vai se conscientizando do quanto é pequeno, frente a grandiosa obra do Criador. Porém, algumas questões a respeito da origem e destino das criaturas nunca tiveram explicações convincentes. Com o advento do Espiritismo, os Espíritos superiores, através de revelações mediúnicas, transmitiram ideias mais completas sobre o ser humano e tudo que o cerca.

Os Espíritos disseram que o Universo abrange a infinidade de mundos que vemos e que não vemos, o espaço que há por toda parte, todos os seres animados e inanimados, os astros que se movem, assim como os fluidos e as energias da natureza.

A Ciência explica que o Universo é formado por dois elementos básicos: matéria e energia. A matéria seria uma forma condensada da energia, conforme demonstram as experiências atómicas.

Os Espíritos revelaram que a Criação na verdade se assenta em três princípios fundamentais: Deus, Espírito e Matéria. A matéria e a energia, segundo eles, seriam uma forma condensada e activa do fluido universal respectivamente.

b) Os mundos

Os mundos são formados pela condensação da matéria disseminada no espaço universal. São as estrelas, os planetas, os cometas, as nebulosas etc. Jesus Cristo, referindo-se à pluralidade dos mundos habitados, afirmou:

"Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vô-lo teria dito; vou preparar-vos lugar" - (João, 14:2).

De uma maneira geral, os mundos habitados podem ser classificados em cinco categorias distintas:

Mundos primitivos: Os mundos primitivos são planetas onde os Espíritos realizam suas primeiras experiências encarnatórias. A Terra, no passado distante, já esteve neste estágio primário.

Mundos de expiação e provas: Mundos de expiação e provas são planetas mais adiantados que os mundos primitivos. Mas, por causa do pouco adiantamento moral de seus habitantes, o mal e o sofrimento ainda predominam na sociedade. É um lugar onde os Espíritos resgatam dívidas contraídas perante a Lei Divina e passam por provas destinadas ao seu aperfeiçoamento moral e intelectual. O mundo terreno actualmente está nesta categoria.

Mundos regeneradores: Os mundos regeneradores são orbes onde não há mais expiações, mas existem provas pelas quais o Espírito encarnado ainda tem que passar para adiantar-se. São os mundos de transição entre os de expiação e provas e os felizes.

Mundos felizes: Os mundos felizes são os planetas onde predominam o bem e a justiça na vida social. Nessas sociedades não há mais injustiças de nenhuma natureza e os povos são fraternos uns com os outros, ajudando-se reciprocamente.

Mundos divinos: São aqueles onde reina absolutamente o bem, sem qualquer mistura com o mal. Constituem-se em moradas de Espíritos superiores e da felicidade dos eleitos.

1.3 - OS SERES VIVOS

Os seres vivos são produto da união do Espírito com a matéria, através da vontade de Deus. O corpo material dos elementos vivos é formado por agrupamentos orgânicos chamados células que, por s fotossíntese, um processo onde as plantas, aproveitando a energia solar, fazem a síntese da matéria orgânica para sua sobrevivência na superfície do planeta.

b) Reino animal

O Reino animal agrupa os seres animados. São os insectos, os peixes, as aves, os animais irracionais, o homem etc. Nessas criaturas, o processo de alimentação e o sistema nervoso são mais aperfeiçoados, segundo a necessidade de cada uma delas. O reino animal abriga Espíritos num estágio superior ao reino dos vegetais. A espécie humana é a classe mais adiantada das entidades espirituais que o compõem.

1.4 - A TRINDADE UNIVERSAL

Vimos que matéria e fluido são uma só grandeza, ou seja, o princípio material. Além dela, existe o princípio inteligente, ou espiritual, constituindo-se na segunda grandeza da Criação. Acima deles está a causa de ambos: Deus.

Eles formam a Trindade Universal: Deus, Espírito e Matéria. Portanto, existe a matéria como Princípio Material, fluido universal; o Espírito, como Princípio Espiritual e inteligente; e acima de tudo Deus, o Criador e mantenedor de todas as coisas. Esses três fundamentos são o princípio de tudo o que existe.


 


AS RELIGIÕES
 

"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte; nem se acende uma candeia para colocá-la debaixo do alqueire, mas no velador, e alumia a todos os que se encontram na casa" - (Mateus, cap. 5 - 14 e 15).

2.0 - HISTÓRIA DAS RELIGIÕES

Desde os primórdios das civilizações, o homem, intuitivamente, traz consigo a ideia de algo superior a ele. No início tinha admiração e respeito pelos fenómenos da natureza e pelos elementos naturais como água, sol, lua, terra e posteriormente pelo fogo. A partir do fim da pré-história, o homem começou a agrupar-se em torno de uma ideia religiosa, tendo em comum a adoração por vários deuses (politeísmo). No decorrer dos tempos, o homem foi incorporando aos objectos de adoração inicial, divindades humanas centradas em figuras de criaturas que ainda viviam entre eles e que exerciam alguma forma de poder, ou figuras que já tinham vivido, como reis, rainhas etc. A imaginação popular, pautada na grande ignorância da época, se encarregava de emprestar a esses seres, qualidades que eles não possuíam, moldando neles a imagem de um deus todo poderoso.

A história das civilizações nos informa que aos poucos os povos foram se agrupando de forma mais organizada e incorporando em sua cultura esse aspecto religioso que marcou quase todas as grandes civilizações deste planeta.

As primeiras civilizações de que temos conhecimento até hoje são as orientais (4 a 2 mil anos a.C.). Os sumérios, acadianos, babilónios, assírios, egípcios, hebreus, persas, fenícios, cretenses, hititas, persas e medos, chineses e hindus, todos eram politeístas, com variações em suas divindades.

As civilizações ocidentais (3 mil a 476 a.C.) são mais novas e também tiveram o politeísmo como factor determinante em suas religiões. As mais importantes foram a civilização grega e a romana.

O termo "religião" provém do latim "religare" e implica na crença em forças consideradas sobrenaturais, criadoras do Universo. Sua finalidade é a de orientar moralmente o homem e religar a criatura ao Criador, através dos ensinamentos da Espiritualidade.

A Religião é a crença na existência da alma, de uma vida além da morte física e de princípios não materiais e leis morais que são fundamentos de todas as coisas. Tais princípios emanam da Inteligência Suprema e foram revelados em períodos distintos em várias regiões do planeta. Eles orientam a vida humana na busca do equilíbrio e da paz pessoal, descortinando o destino do homem como ser imortal.

Por este motivo, é necessário tornarem-se conhecidos de toda a humanidade.

a) Finalidade das religiões

"Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; é aí, com efeito, que esta deve e pode exercer toda a sua força, porque o objectivo deve ser o desprendimento do pensamento das garras da matéria" - (Allan Kardec - Revista Espírita, Dezembro, 1868).

A Ciência terrena promove o progresso material e intelectual da humanidade. A Religião tem como tarefa promover o progresso moral dos seres humanos, demonstrando a eles que os bens materiais são instrumentos que devem ser usados para edificar moralmente as criaturas e que foram feitos para a felicidade de toda a colectividade. Precisa mostrar aos homens, que eles não devem tornar-se escravos de suas paixões. A religião deve divulgar as palavras do Cristo explicando ao povo que o Reino de Deus está dentro das pessoas, e que só o esforço do melhoramento pessoal conduz a alma no caminho do tão sonhado equilíbrio. As religiões, portanto, tem como objectivo geral modificar moralmente o homem, melhorando sua qualidade de vida espiritual. Aquelas que não atingirem essa meta terão que explicar a que vieram.

b) Diversidade das religiões

No mundo actual, observa-se a existência de grande número de religiões e seitas que se multiplicam a cada dia. Este fenómeno social acontece por duas razões distintas: a cultura e costumes dos povos e a idade espiritual heterogénea da humanidade. Muitos tipos de Espíritos, de diversos estágios evolutivos, habitam a Terra. Cada um vê Deus a seu modo e interpreta Sua palavra segundo o próprio entendimento. Todas as religiões que elevam moralmente o homem são boas. Aconselha-se, no entanto, que as pessoas evitem religiões onde haja deuses e rituais estranhos, sacrifícios e orientações que afastem o homem da vida e de suas ocupações sociais.

Com o inegável avanço da Ciência e da tecnologia, torna-se cada dia mais difícil as pessoas aceitarem dogmas religiosos contrários à razão.

Estudaremos um pouco das principais religiões existentes no planeta, para nosso conhecimento geral. São elas: Judaísmo, Hinduísmo, Budismo, Cristianismo, Islamismo.

1) Judaísmo

 - Primeira religião monoteísta da humanidade. Surgiu entre os antigos israelitas no Oriente Médio. Segundo a tradição judaica, Abraão fundou a religião por volta de 1700 a.C., após receber uma revelação de Deus. Seu neto Jacó, também chamado Israel, teve 12 filhos, origem das 12 tribos israelitas. Durante certo tempo, muitos israelitas estabeleceram-se no Egipto, onde acabaram tornando-se escravos. Por volta de 1300 a.C., o grande legislador hebreu, Moisés, descendente de Abraão, tirou-os do Egipto e levou-os a Canaã, actual Palestina, depois de 40 anos viajando no deserto.

Depois de Salomão, filho do rei Davi (que transformou Jerusalém em centro religioso), as tribos dividem-se em dois reinos: o de Israel, na Samaria e o de Judá, com capital em Jerusalém. O reino de Israel é devastado em 721 a.C. pelos assírios e não mais reconstruído. Permanece o reino de Judá, enfrentando toda sorte de adversidades, como escravidão, guerras, invasões etc. Depois da destruição do Templo de Jerusalém, pelos romanos, em 70 d.C. e da destruição da cidade em 135 d.C., os judeus se dispersam por todos os continentes (segunda diáspora judaica), mas mantém a unidade cultural e religiosa. Somente em 1948 termina a diáspora, com a criação do Estado de Israel.

Os judeus têm como livro sagrado A Bíblia judaica, dividida em 3 (três) livros: Torah, Os Profetas e os Escritos.

O Torah é a escritura sagrada dos judeus. Reúne os cinco livros primeiros da Bíblia, atribuídos a Moisés: Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronómio.

Existem cerca de 14 milhões de judeus em todo o mundo; 4,5 milhões só no Estado de Israel.

2) Hinduísmo

 - Surgiu por volta de 1500 a.C. Naquela época, os arianos, um povo da Ásia Central, invadiram e conquistaram a Índia. Gradualmente, a cultura ariana misturou-se à cultura de um povo nativo conhecido como drávida. O hinduísmo desenvolveu-se a partir da mesclagem destas duas culturas. A doutrina está fundamentada nos quatro livros dos Vedas (conhecimento, em sânscrito), um conjunto de textos sagrados compostos de hinos, louvores e ritos. As características principais do hinduísmo são o politeísmo e a crença na reencarnação. Com o passar dos tempos, os sacerdotes estabelecem o sistema de castas, que se torna a principal instituição da sociedade indiana. Sem abandonar as divindades registradas nos Vedas, estabelecem Brahma como o deus principal e o princípio criador.

Estima-se que actualmente existam mais de 660 milhões de adeptos do hinduísmo em todo o mundo.

3) Budismo

 - Sistema ético, religioso e filosófico fundado pelo príncipe hindu Sidarta Gautama (563 a.C.? - 483 a.C.?), o Buda, por volta do século VI a.C. Consiste no ensinamento de como superar o sofrimento e atingir o nirvana (estado total de paz e plenitude) por meio da disciplina mental e de uma forma correcta de vida.

Em parte, o budismo pode ser considerado uma rebelião contra certas características do hinduísmo. O budismo opunha-se ao culto hinduísta de muitas divindades, à ênfase no sistema de castas e ao poder da classe sacerdotal hinduísta. O budismo está praticamente extinto na Índia, desde a invasão muçulmana no século XII. Hoje tem cerca de 300 milhões de budistas em todo o mundo.

4) Cristianismo

 - Iniciada por Jesus Cristo e seus discípulos, em meados do século I. Actualmente é uma das religiões mais difundidas no mundo, com algo em torno de 1,9 bilhão de fiéis. Divide-se em três ramos principais: Catolicismo, Igreja Ortodoxa e Protestantismo.

A fé cristã professa que Deus, revelado a Abraão, Moisés e aos profetas, envia à Terra seu filho como Messias (Cristo, em grego), o Salvador.

As religiões cristãs fundamentam-se na Bíblia ou Escrituras Sagradas, que falam da génese do Universo, do mundo e do homem terreno. Contém um conjunto de textos muito importantes para o entendimento da história da humanidade, desde a sua criação até hoje.

Mais adiante nos deteremos no estudo desta religião, um dos pilares em que se sustenta a Doutrina Espírita.

5) Islamismo

 - Religião monoteísta baseada nos ensinamentos de Maomé (570 - 632), chamado "O Profeta", contidos no livro sagrado islâmico "O Alcorão". A palavra Islã significa "submeter-se" e exprime a submissão à lei e à vontade de Alá (Allah, Deus em árabe). Seus seguidores são chamados muçulmanos, que significa "aquele que se submete a Deus". Segundo eles, O Alcorão contém a mensagem de Deus a Maomé, mediada pelo arcanjo Gabriel, recebidas de 610 a 632. Seus ensinamentos são considerados infalíveis.

Fundada onde é hoje a Arábia Saudita, estima-se que seja professada por mais de 1.3 bilhão de pessoas, distribuídas principalmente no norte da África, no Oriente Médio e na Ásia.

Os muçulmanos estão divididos em sunitas e xiitas. Os sunitas (80%) são os seguidores da tradição do profeta, continuada por All-Abbas, seu tio. Os xiitas são partidários de Ali, marido da filha de Maomé, e são extremamente radicais.

2.1 - A BÍBLIA

Diz a tradição histórica que a Bíblia é o livro sagrado de um povo. Estudiosos das Escrituras afirmam que se trata de uma história ligada estritamente ao povo hebreu. Mas, existem diversos trechos dos textos antigos, principalmente no Novo Testamento, nos quais o Espírito Divino dirige-se à humanidade como um todo, procurando orientá-la moralmente e dizendo-lhe que haverá um tempo em que a luz divina estará presente em todo o planeta, trazendo uma época de prosperidade a todos os povos.

A Bíblia é um conjunto de livros considerados sacros, que se divide em Velho e Novo Testamento. O Velho Testamento narra o período que antecede a época em que viveu Jesus. O Novo Testamento fala de sua vida, sua mensagem e do começo do movimento cristão.

Sendo a Doutrina Espírita o Cristianismo redivivo, no dizer dos Espíritos superiores, nos parece lógico que nos esforcemos para estudar esse livro com seriedade, tirando dele os ensinamentos que necessitamos, à luz do Espiritismo. Infelizmente, por razões que não nos cabe considerar no momento, esse não é um hábito entre os espíritas, o que deixa uma grande lacuna em termos de entendimento da mensagem divina e mesmo da origem da nossa doutrina.

a) Velho Testamento

O Velho Testamento inicia-se com cinco livros, de suposta autoria do profeta Moisés, e são conhecidos como o Pentateuco Mosaico. A história do povo hebreu, com o patriarca Abraão, data de 1700 a.C. e a época do aparecimento dessas obras é assinalada em torno de 1500 a 1300 anos antes de Cristo.

Em alguns escritos de Moisés, encontram-se os ensinamentos que foram os primeiros fundamentos das leis morais: os Dez Mandamentos. Estas orientações de vida constituíram-se no aspecto Divino de sua revelação, feitas pelos Espíritos superiores através da mediunidade do profeta, e estão válidas até os dias atuais. São as seguintes:

• Não adorarás imagens.
• Não usarás o nome de Deus em vão.
• Santificarás um dia da semana.
• Honrarás pai e mãe.
• Não matarás.
• Não cometerás adultério.
• Não furtarás.
• Não mentirás.
• Não desejarás a mulher do próximo.
• Não terás inveja.
 

Os livros considerados como obras de Moisés são:

Gênesis:

 A Gênesis trata da origem da Criação e do próprio mundo terreno. Nele, há uma narrativa simbólica onde todas as fases do aparecimento do Universo e do planeta Terra são descritas com relativa precisão. No estudo da Codificação Espírita, voltaremos a nos ocupar desse assunto, examinando o livro preparado por Allan Kardec, também denominado "A Gênese", que trata o tema em profundidade.

Êxodo:

 O livro Êxodo conta os principais episódios ligados à libertação do povo hebreu, escravo no antigo Egipto durante cerca de quatrocentos anos. Esta liberdade teria sido conseguida através do trabalho missionário de Moisés, narrado em detalhes pela história bíblica.

Levítico:

 O Levítico é o livro que contém as instruções que eram destinadas à orientação dos cultos entre os seguidores do Legislador hebreu e a Divindade. Orientava as obrigações e rituais religiosos da época.

Números:

 O livro Números apresenta parte da história da movimentação dos hebreus no deserto em direcção à Canaã, a terra prometida. Nele, existe ainda a realização de um censo, feito com a finalidade de se saber quantas pessoas empreenderam a histórica viagem, depois que Moisés as libertou do Egipto.

Deuteronómio:

 O Deuteronómio apresenta um código de leis promulgadas por Moisés, destinadas a reorganizar a vida social do seu povo. É neste livro que se encontra a proibição dos contactos mediúnicos com os "mortos".

A lei mosaica proibia essas actividades, porque as evocações fúteis, comuns entre os egípcios, também eram praticadas pelos hebreus de forma fanática e irresponsável. A prática tinha se vulgarizado e se tornado em motivo de graves problemas entre eles. A proibição foi uma medida disciplinar do legislador.

Segundo historiadores, o missionário Moisés levou do Egipto para Israel, chamado naquele tempo de Canaã, uma multidão de quatrocentas mil pessoas. A viagem durou quarenta anos. Ainda no Velho Testamento, destacam-se os livros dos demais profetas, que são em número de trinta e quatro. A maioria deles contém profecias que falam da vinda futura de um Espírito iluminado, que traria o Reino de Deus à humanidade. Essas previsões se concretizaram na encarnação de Jesus, o Cristo.


b) Novo Testamento

O Novo Testamento é um conjunto de livros que narra a história do aparecimento do Cristianismo. Fala do nascimento de Jesus, de sua vida pública como pregador e de seu trabalho como médium. Apresenta ainda, discursos e informações sobre seus discípulos directos e indirectos. Encerra-se com o livro chamado Apocalipse, prevendo a fase da transição, com o fim do mundo velho e o estabelecimento do período d

• Epístola de Tiago,
• Epístolas de Pedro,
• Epístolas de João Evangelista,
• Epístola de Judas Tadeu e
• Apocalipse, atribuído a João Evangelista.

Alguns dados importantes:

Adão e Eva: Segundo as religiões convencionais, Adão e Eva teriam vivido na Terra há quatro mil anos antes de Cristo.

Idade científica da Terra: Cerca de quatro bilhões e meio de anos.

Primórdios da Civilização: 100 mil anos.

Aparecimento de tipos humanos modernos: 30 mil anos

Berço da Civilização: Mesopotâmia (Iraque) e Babilónia (Irão).

A Ciência comprovou, cientificamente, a impossibilidade da história relativa à humanidade ter-se iniciado somente há quatro mil anos e demonstrou que o homem surgiu em condições bastante primitivas em vários pontos da Terra, há milhares de anos atrás. Seus vestígios foram encontrados por pesquisadores e historiadores em cavernas e sítios arqueológicos.


2.2 - A IGREJA CATÓLICA

Logo depois da morte de Jesus, seus discípulos directos fundaram a Igreja primitiva e alguns núcleos cristãos foram edificados por eles, dando início à divulgação da Boa Nova. Os primeiros cristãos foram judeus que acreditavam que Jesus era o Messias, o salvador esperado por sua raça. Os adeptos da nova crença gradativamente foram se afastando do judaísmo, entretanto adoptaram as Escrituras judaicas, o que foi fonte de discordâncias entre alguns dos apóstolos, nos primeiros tempos.

Mais tarde, apareceu no cenário histórico a figura de Paulo de Tarso, chamado "apóstolo dos gentios". Devido sua profunda dedicação ao ideal do Cristo, as actividades cristãs se multiplicaram e várias comunidades foram fundadas sob sua orientação. A história da vida desse apóstolo, pode ser apreciada na Bíblia, através das cartas que escrevia às Igrejas e aos seus discípulos. Nesses escritos, ele procurava passar as orientações devidas aos núcleos, profundamente apaixonado que era pelo ideal de amor de Jesus. Foi devido a sua coragem e perseverança que a doutrina do Rabi Galileu não permaneceu circunscrita à comunidade judaica e ultrapassou as fronteiras de raça, indo ser semeada para todos os povos.

Neste período, as práticas doutrinárias e mediúnicas nos templos eram puras e simples, próximas das que hoje temos nos centros espíritas. Os adeptos se reuniam para estudar os princípios da moral evangélica, deixada por Jesus. Uns liam, outros interpretavam e eram comuns as manifestações de Espíritos, o que para eles era muito natural.

Depois do desaparecimento de Paulo, por volta de 67 d.C. o número de igrejas em terras pagãs continuou a crescer. Por volta de 140, o centro do cristianismo tinha mudado para comunidades cristãs nas cidades de Antioquia, na Síria; Alexandria, no Egipto; e principalmente Roma. Os cristãos primitivos ainda foram perseguidos durante muitos anos pelo sistema político dominante.

A história da Igreja atingiu um momento decisivo em 313, quando o imperador romano Constantino, o Grande, deu aos cristãos a liberdade para a prática de sua religião e o Estado devolveu aos seguidores de Jesus muitos bens materiais que deles haviam sido confiscados no período da perseguição. Após o Concílio de Nicéia, no ano 325 d.C., fixou-se definitivamente o símbolo da fé e a partir daí instalou-se a edificação nos templos, de altares consagrados ao Senhor. Era o nascimento do Catolicismo. Este foi o primeiro dos sete concílios realizados entre 325 e 787. Datam deste período as mais graves desfigurações da beleza e simplicidade do Evangelho, inclusive em seus aspectos práticos.

Em 330, Constantino deixou Roma e se estabeleceu a capital do Império numa nova cidade, baptizada com seu nome - Constantinopla (actualmente Istambul, na Turquia). A cidade tornou-se o centro do cristianismo oriental. Bem mais tarde (1054) deu origem ao cisma dentro da Igreja, de onde nasceu a Igreja Ortodoxa.

a) Os dogmas

Os dogmas são pontos fundamentais e indiscutíveis de uma doutrina religiosa. No Catolicismo, os dogmas foram responsáveis pelo aparecimento dos costumes sacramentais, das confissões, do culto às imagens, da hóstia, da obediência ao Papa, dos altares, dos paramentos, do baptismo, da crisma etc. Isso se deu pela forte influência das doutrinas pagãs e judaicas existentes no meio naquela época, o que levou seus seguidores a adaptarem seus costumes aos ensinamentos de Jesus, desfigurando seu verdadeiro sentido.

b) A Reforma Protestante

Depois que a Igreja estabeleceu os dogmas, pouco a pouco ela foi se distanciando do povo, deixando de atender suas necessidades espirituais de conforto e assistência. Com o passar dos anos, desvirtuou-se de tal maneira que já não se poderiam reconhecer nela nenhum vestígio dos iluminados valores das primeiras eras. Pouco a pouco, deixou de ser o farol espiritual de um povo para mergulhar nas profundas e negras águas das disputas do poder temporal. Frente a isso, surgiram líderes dentro da própria Igreja que começaram a lutar contra a política desenvolvida pelo clero, fomentando nos adeptos da fé cristã, um espírito de renovação espiritual.

Foi o primeiro passo para um importante movimento de reestruturação da Igreja, que culminou na Reforma Protestante. Desta revolução houve uma divisão na Igreja e nasceu o Protestantismo. Dentre os homens que trabalharam para restituir o verdadeiro sentido do Evangelho de Jesus, destacaram-se líderes como:

John Wycliffe (1324 - 1385): Filósofo inglês, tornou-se famoso como professor de filosofia na Universidade de Oxford, onde defendia ideias nacionalistas e contra os poderes de papas e bispos. Segundo Wycliffe, os governantes injustos não podiam exigir obediência do povo, porque a obediência depende da vontade de Deus. Negava a doutrina da transubstanciação (transformação da água e vinho em corpo e sangue de Jesus). Com essas ideias despertou a ira do clero e passou a ser perseguido pela Igreja. Em suas últimas obras, declarou que a Bíblia, não a Igreja, era autoridade na doutrina cristã. As classes elitistas achavam que as ideias desse revolucionário encorajavam os pobres a exigirem melhores condições de vida.

Com a ajuda e incentivo de Wycliffe, seus seguidores traduziram a Bíblia para o inglês. Foi considerado o primeiro grande reformador pelos ingleses.

João Huss (1369-1415): Reformador religioso da Boémia, cujos ensinos foram os precursores da Reforma protestante, influenciado pelas obras de John Wycliffe. Foi ordenado padre em 1401. Huss criticou asperamente o comportamento de bispos, cardeais e papas e pedia uma reforma na Igreja. Atacou com veemência a venda de indulgências e chamava o papado de "uma instituição de Satanás".

Em 1409 foi eleito reitor da Universidade de Praga. Mas Huss já era considerado um notório herege e foi excomungado em 1412. Em 1414, foi chamado a depor perante o Concílio de Constança, onde foi condenado, embora lhe tivessem prometido que estaria em segurança, caso concordasse em ir ao concílio para se defender. Morreu queimado numa fogueira, acusado de heresia.

Depois de sua morte, desencadeou-se um período negro de guerras civis, por conflitos religiosos entre os hussitas (seguidores do reformador) e os católicos tradicionais, leais ao papa. Os dois lados chegaram a um acordo em 1436. Mas apesar da repressão religiosa, alguns adeptos de Huss organizaram-se em grupos e nasceu em 1457, na Morávia, região cultural da Checoslováquia, a Unitas Fratrum (União de Irmãos). Este grupo cresceu e era uma força religiosa importante no tempo de Martim Lutero.

Martim Lutero (1483-1546): Teólogo alemão e líder da Reforma, movimento religioso que levou ao nascimento do protestantismo. Sua influência ultrapassou as fronteiras protestantes e mesmo do cristianismo como um todo, pois trouxe uma série de consequências políticas, económicas e sociais para o mundo ocidental.

Em 1501, Lutero decide tornar-se advogado a pedido de seu pai e entra para a Universidade de Erfurt, onde estuda Artes, Lógica, Retórica, Física e Direito. Torna-se mestre em Filosofia e em 1505 entra para a Ordem dos Agostinianos, depois de uma intensa experiência que viveu durante uma tempestade. Ordena-se padre em 1507 e em 1512 doutora-se em Teologia, sendo designado como professor de teologia em Winttenberg, cargo que manteve por toda a vida.

Em seus estudos das Sagradas Escrituras, descobriu o verdadeiro sentido da doutrina de Jesus Cristo e sua grande ausência na crença que professava. Influenciado pelos ensinamentos de João Huss, padre excomungado e condenado à fogueira pela Igreja Católica, Lutero começou a desenhar sua doutrina reformista entre seus alunos. A questão fundamental inicial foi a venda de indulgências, prática comum naquela época, utilizada pela Igreja para angariar fundos e manter a vida de prazeres mundanos em que tinha mergulhado o papado. A prática, considerada imoral por Lutero e outros que o precederam nessa luta, foi duramente combatida por ele.

Em 1517 se fez ouvir sua voz contra os hábitos mundanos e abusivos que a Igreja vinha cometendo, vendendo a salvação em troca de moedas de ouro: afixou suas famosas "95 teses" na porta da igreja do castelo de Wittenberg. As teses, além de combater a venda de indulgências, abordava outros pontos igualmente importantes de sua doutrina como negação do culto aos santos e autoridade papal, abole a confissão obrigatória e o celibato clerical e só aceita os sacramentos do baptismo e da eucaristia. Iniciaram-se as perseguições e calúnias de seus inimigos católicos, com as quais conviveu até a morte.

Em 1519 manteve um famoso debate em Leipzig com um teólogo católico, Johann Eck. Ele fez Lutero admitir que tinha algumas das opiniões de João Huss, considerado herege pela Igreja. Durante o debate Lutero atacou o Concílio de Constança pela condenação de Huss. Eck provocou a excomunhão do monge em 1520 e combateu o protestantismo pelo resto da vida.

Em 1521, Lutero já excomungado pelo papa Leão X, é convocado pelo imperador do Sacro Império Romano, Carlos V, a retratar-se em Worms, Alemanha, em um conselho de príncipes, nobres e religiosos.

O reformador compareceu e reafirmou suas convicções. Declarou: "A menos que eu seja convencido pelo testemunho das Escrituras ou pela razão pura (pois não confio apenas no papa ou nos concílios, uma vez que é público o fato deles terem, com frequência, incorrido em erro ou entrado em contradição), estou preso pelas Escrituras que citei e minha consciência é cativa da palavra de Deus. Eu não posso e não irei renegar nada, já que não é seguro, nem correcto, ir contra a consciência. Não posso agir de outro modo".

Excomungado, Lutero publica os documentos Manifesto à Nobreza Alemã, Do Cativeiro Babilónico da Igreja e Da Liberdade do Cristão, os grandes escritos reformistas. Em 1521 é banido pelo imperador Carlos V da Alemanha. Apoiado por sectores da nobreza, traduz a Bíblia para o alemão vulgar, obra prima-literária, que se constituiu em enorme contribuição para a criação da língua alemã moderna.

Abandona a ordem agostiniana em 1524 e, no ano seguinte, casa-se com uma ex freira.

Em 1530, o imperador Carlos V convoca uma dieta (encontro) dos grupos antagonistas, em Augsburgo, cidade da Alemanha, para acabar com as disputas religiosas em seu império, que havia atingido grandes proporções e consequências assustadoras. Johann Eck faz circular rapidamente panfletos denunciando Lutero e seus seguidores. Para responder ao ataque, é feito um documento com o resumo dos ensinamentos de Lutero, que ficou famoso com o nome de Confissão de Augsburgo. Escrito e defendido por Phillip Melanchthon, principal colaborador e amigo do reformador, os escritos tentavam um equilíbrio em relação a certos pontos controvertidos e mostravam que os luteranos apoiavam a tradição histórica da igreja cristã. A Confissão foi rejeitada por Carlos V, mas converteu-se na declaração básica de fé da Igreja Luterana.

Na época de sua morte, em Eisleben, em 18 de fevereiro de 1546, aos 63 anos, Lutero já era reconhecido como uma figura importante na história do cristianismo e do mundo. Foi considerado o alemão mais influente de todos os tempos, pois o movimento desencadeado por ele afectou o desenvolvimento político e cultural da cada nação na Europa e na América.

João Calvino (1509 - 1564): Um dos principais teóricos da Reforma, Calvino nasceu na França, e sua família, pertencente à burguesia, educou-o para a carreira jurídica. Com a divulgação da revolta de Lutero pelo continente europeu, suas ideias foram reformuladas por alguns de seus seguidores, particularmente João Calvino, que dinamizou o movimento reformista através de novos princípios, ampliando a doutrina luterana. Homem dotado de grande inteligência, além de ter sido excelente orador e autor de muitos livros, tinha também excepcional capacidade de organização e administração. Exerceu influência especialmente na Suíça, Inglaterra, Escócia e América do Norte.

Influenciado pelo Humanismo e pelas teses luteranas converteu-se em ardente defensor das novas ideias. Perseguido na França, Calvino refugiou-se na Suíça, onde a Reforma já havia se estabelecido em algumas regiões, por conta da acção de Ulrich Zwinglio (1484-1531). Escreveu a "Instituição da Religião Cristã" (1536), que se tornou o catecismo dos calvinistas.

Em Genebra, transformada na "Roma do Protestantismo", Calvino ganhou notoriedade e poder, conseguindo impor sua doutrina, interferir nos costumes, nas crenças e na própria organização político administrativa da cidade. Extremamente mais radical que Lutero, João Calvino divergia da escola luterana em alguns pontos importantes: enquanto o primeiro subordinava a Igreja ao Estado, Calvino defendeu a separação entre as duas instituições (em Genebra, a Igreja era o próprio Estado); justificou actividades económicas até então condenadas pela Igreja, dando impulso considerável ao capitalismo nascente; rejeitou a missa, sacramentos e tudo o que não estivesse rigorosamente de acordo com as Escrituras; destruiu completamente o livre-arbítrio, pois pregava a predestinação absoluta dos eleitos e dos condenados.

João Calvino desenvolveu a Igreja que actualmente é chamada de presbiteriana. Apesar do exagerado radicalismo, nenhum outro reformador fez tanto para obrigar as pessoas a pensar a ética social cristã.




ORIGEM DA DOUTRINA ESPÍRITA

"E eu rogarei ao Pai e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós.

‘‘Mas, aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" - (João, cap. 15 - 15 a 26).

3.0 - A GÊNESE DA DOUTRINA ESPÍRITA

A Doutrina Espírita, ou Espiritismo, apareceu no cenário terreno no século XIX, por volta do ano de 1850. Suas raízes encontram-se nos princípios do Cristianismo, doutrina implantada por Jesus e seus seguidores, há quase dois mil anos. A Doutrina Espírita é o cumprimento da promessa do Senhor, na qual afirmou que enviaria ao mundo, no devido tempo, um Consolador, O Espírito de Verdade, que relembraria seus ensinamentos e faria novas revelações a respeito dos mistérios da vida.

Em um de seus muitos discursos, Jesus disse que não poderia dizer todas as coisas, pois os homens ainda não tinham condições de entendimento para compreendê-las. No tempo certo, enviou o Espiritismo, que retirou o véu dos "mistérios" de Seus ensinamentos e ampliou sobremaneira o campo do conhecimento humano, despertando o Ser para um novo mundo.

Nos séculos XVI e XVII, depois que a Reforma Protestante havia libertado a humanidade dos domínios da Igreja, formou-se um clima muito propício à fermentação de ideais renovadores. Foi neste período que iniciaram-se as primeiras manifestações de Espíritos, chamando a atenção do homem de então e preparando o terreno para o advento do Consolador. No século XIX, nascia o Espiritismo, considerada a terceira revelação. Com ele vieram as novas lições acerca do sentido da vida, da dor, da justiça e sobre o destino dos homens depois da morte.

Allan Kardec afirmou que: "Partindo o Espiritismo das próprias palavras do Cristo, assim como o Cristo partiu de Moisés, é um sequência directa de sua doutrina" - (Revista Espírita, Setembro, 1867).

3.1 - ASPECTOS HISTÓRICOS

a) Emmanuel Swedenborg

Embora oficialmente os espíritas tomem o ano de 1848, com o fenómeno de Hydesville, como o marco do aparecimento do Espiritismo no mundo, precisamos saber que, antes disso, existiram algumas pessoas que, pela sua capacidade de produzir fenómenos ligados às coisas espirituais, devem ser citadas como de importância para o surgimento desta Doutrina entre os homens. A história do extraordinário vidente sueco Emmanuel Swedenborg merece atenção e estudo de nossa parte.

Swedenborg, educado entre a nobreza sueca, era católico e profundo estudioso da Bíblia. Era grande autoridade em Física e Astronomia, autor de importantes trabalhos sobre as marés e determinação das latitudes. Zoologista, anatomista, financista e político, era ainda engenheiro de minas, com grande conhecimento em metalurgia.

O desabrochar de seu potencial mediúnico deu-se em abril de 1744, em Londres, onde desenvolveu seu trabalho por vinte e sete anos e esteve em constante contacto com "o outro mundo". Deixou em suas obras, relatos extraordinários de suas experiências com o mundo espiritual. Diz ele sobre sua primeira visão: "Na mesma noite, o mundo dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde então, diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver, perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com anjos e Espíritos".

Afirmava Swedenborg que uma densa nuvem havia se formado em redor da Terra, devido ao psiquismo grosseiro da humanidade, numa clara antecipação aos ensinos sobre a atmosfera fluídica que a Doutrina Espírita nos trouxe. Dizia também que, de tempos em tempos, haveria uma limpeza, assim como a trovoada aclara a atmosfera material.

Deixou ensinos importantes nas seguintes obras: "O Céu e Inferno", "A Nova Jerusalém" e "Arcana Celestia".

b) Andrew Jackson Davis

Nascido em 1826, em New York, era um jovem sem cultura, nascido em meio pobre, mãe com tendências visionárias aliadas à superstição e o pai trabalhava com couros. Nos últimos anos de infância, começaram a se desenvolver os poderes psíquicos de Davis.

Com o auxílio de um magnetizador, Davis fazia verdadeiras "viagens" pelo mundo dos Espíritos, trazendo informações as mais surpreendentes. Tinha extraordinária clarividência que, a princípio, foi usado como divertimento e mais tarde o seu magnetizador utilizou para diagnóstico de doenças.

Aos 19 anos de idade, Davis manifestou o desejo de escrever um livro e o fazia através de transes mediúnicos, submetidos por um magnetizador. Um secretário anotava fielmente as palavras que jorravam da boca do médium, como se fora o mais douto em conhecimento e sabedoria, porém tratava-se de um jovem ignorante e sem cultura. Esse foi o começo do trabalho mediúnico desse jovem, que continuou por muitos livros, todos reunidos com o nome de "Filosofia Harmónica". Nessa fase, ele dizia estar sob a influência directa de uma entidade, que posteriormente identificou como sendo Swedenborg. O desenvolvimento de sua faculdade continuou e aos vinte e um anos já não necessitava mais de quem o induzisse ao transe.

Começou aí nova fase, onde passou a ter as mais impressionantes experiências de clarividência. Descreveu com clareza o fenómeno da morte, visto por ele à beira do leito de uma senhora agonizante. Teve muitas visões do mundo espiritual, fez muitas previsões como o aparecimento do automóvel , da máquina de escrever e do próprio Espiritismo.

Davis representou um importante papel no começo da revelação espírita, preparando o terreno antes que se iniciasse o trabalho dos Espíritos superiores. Quando explodiu o acontecimento de Hydesville, ele já o conhecia desde o início, através de revelações mediúnicas. Morreu em 1910, aos oitenta e quatro anos de idade.

c) Fenómeno de Hydesville

No ano de 1848, na América do Norte, surgiram alguns acontecimentos inusitados que assombraram o mundo. Na casa de uma família americana chamada Fox, que morava num vilarejo de nome Hydesville, no Estado de New York, começaram a manifestar-se forças sobrenaturais que pareciam vir do invisível. Aconteciam estranhos ruídos nas paredes, com indícios de serem provenientes de uma inteligência oculta desejando se comunicar.

Tudo indicava que as irmãs Kate e Margaret Fox, duas meninas de 11 e 14 anos, eram o centro do fenómeno paranormal, que acabou transformando a casa em ponto de atracção para curiosos.

As pessoas se divertiam vendo as jovens ordenarem a uma suposta inteligência invisível, que fizesse barulhos e produzisse pancadas nas tábuas da parede.

Através dos ruídos na madeira, convencionou-se um código pelo qual algumas pessoas comunicavam-se regularmente com o Além. Uma pancada significava "sim"; duas, significavam "não", enquanto outros sinais simbolizavam letras ou palavras.

A inteligência invisível, que produzia os fenómenos de Hydesville, dizia ser um Espírito que tinha animado um personagem que vivera na Terra em outros tempos. O Espírito foi apelidado pelas meninas de "sr. Perneta". Suas comunicações revelaram que ele animara o corpo de um homem que havia sido morto a facadas naquela casa, tempos atrás. Seus restos mortais foram enterrados no porão da residência. Algumas pessoas escavaram o local e encontraram cabelos e ossos humanos.

Pesquisas feitas mais tarde, revelaram que o sr. Perneta era um homem chamado Charles Rosma, que fora morto na casa cinco anos antes.

O fenómeno atraiu a atenção do mundo e por muito tempo as irmãs Fox fizeram demonstrações de sua capacidade de comunicar-se com os "mortos", apresentando-se em salões, submetendo-se à cobiça de empresários e sendo alvo de muitas polémicas. Por desconhecerem completamente os mecanismos do maravilhoso dom da mediunidade, envolveram-se com influências perniciosas que a levaram a ter um fim triste e obscuro.

d) Daniel Dunglas Home

Quase concomitante às irmãs Fox, um outro fenómeno mediúnico despertou a atenção das massas. Tratava-se dos feitos do médium Daniel Dunglas Home, que ficou conhecido mundialmente pelos fenómenos paranormais que provocava à sua volta. Forças invisíveis se manifestavam, chegando em algumas ocasiões a levantá-lo do chão. Home chamou a atenção de sábios e estudiosos em todo o mundo.

Home nasceu em uma pequena aldeia na Escócia e viveu de 1833 a 1886. Desde cedo demonstrou sua prodigiosa faculdade e jamais envolveu-se com dinheiro em suas fantásticas demonstrações de vidência, efeitos físicos, levitação, desdobramento etc. Embora contemporâneo do Codificador do Espiritismo, eles nunca se conheceram. Entretanto Allan Kardec faz comentários sobre ele em sua obra, analisando os fenómenos, que para ele, eram autênticas provas da existência de imortalidade da alma.

Daniel Dunglas Home foi considerado o mais surpreendente médium de todos os tempos. Embora não fosse espírita, atribuía a responsabilidade dos fenómenos aos Espíritos, o que contribuiu para popularização do Espiritismo nos nobres salões da América e da Europa.

e) As Mesas Girantes

Em 1850, na França, surgiu um tipo de brincadeira chamada "mesa falante" ou "mesa girante", que tomou conta dos salões festivos da época. A mesa girante era uma mesinha redonda, de três pés, em torno da qual se ajuntavam as pessoas para provocar manifestações de forças sobrenaturais.

As mãos dos presentes eram colocadas sobre a superfície da mesa que, através de um fenómeno de efeitos físicos, dava saltos sobre seus pés, girando e dando pancadas.

Por meio de um código alfabético semelhante ao usado pelas irmãs Fox, na cidade de Hydesville, era possível conversar com o "invisível". A sociedade francesa divertia-se em perguntar amenidades à mesa. Houve uma espécie de febre em torno dessa brincadeira.

Uma senhora, chamada Emília de Girardim, desenvolveu uma sofisticada mesa que girava livre e facilmente em torno de um eixo à maneira de roleta. Na superfície e em circunferência eram colocadas as letras do alfabeto, os números e as palavras sim e não. No centro, um ponteiro metálico ou agulha fixa. O médium punha os dedos na borda da mesa que girava e parava sob a agulha, na letra desejada pelas forças invisíveis para fazerem seus ditados. Com isso, tornou-se possível conseguir, regularmente, mensagens vindas do Além. As mesas girantes eram a grande sensação dos salões da Europa e América. Por meio delas as pessoas passaram a ter contacto com o mundo invisível, realizando sessões de comunicação espiritual, onde reinava a frivolidade e a brincadeira.

c) Tiptologia

Os fenómenos de ruídos provocados por Espíritos em paredes, mesas ou outros objectos, e que serviram de meios de comunicação com o invisível, foram mais tarde classificados pelo nome de Tiptologia. Foi desta forma que iniciaram as primeiras comunicações, que depois foram aperfeiçoadas, passando por várias fases.

3.2 - ALLAN KARDEC


Allan Kardec foi um professor francês que se interessou pelo estudo das manifestações espirituais e foi atraído pela novidade das mesas girantes. Em 1854, ele ouviu falar pela primeira vez do fenómeno, através de um amigo seu chamado Fortier. No ano seguinte, se interessou mais pelo assunto, pois soube tratar-se de intervenção dos Espíritos, informação dada pelo sr. Carlotti, seu amigo há 25 anos. Depois de algum tempo, em maio de 1855, ele foi convidado para participar de uma dessas reuniões, pelo Sr. Pâtier, um homem muito sério e instruído. O professor era um grande estudioso do magnetismo e aceitou participar, pensando tratar-se de fenómenos ligados ao assunto. Após algumas sessões, começou a questionar para descobrir uma resposta lógica que pudesse explicar o fato de objectos inertes emitirem mensagens inteligentes. Admirava-se com as manifestações, pois parecia-lhe que por detrás delas havia uma causa inteligente responsável pelos movimentos. Resolveu investigar, pois desconfiou que atrás daqueles fenómenos estava como que a revelação de uma nova lei.

As "forças invisíveis" que se manifestavam nas sessões de mesas falantes diziam que eram as almas de homens que já haviam vivido na Terra. O Codificador intrigava-se mais e mais. Num desses trabalhos, uma mensagem foi destinada especificamente a ele. Um Espírito chamado Verdade disse-lhe que tinha uma importante missão a desenvolver. Daria vida a uma nova doutrina filosófica, científica e religiosa.

Kardec afirmou que não se achava um homem digno de uma tarefa de tal envergadura, mas que sendo o escolhido, tudo faria para desempenhar com sucesso as obrigações de que fora incumbido.

Com suas pesquisas, organizou e codificou a Doutrina Espírita. Seu verdadeiro nome era Hippolyte Léon Denizard Rivail. Usava o pseudónimo de Allan Kardec, para evitar que sua personalidade ficasse em evidência, pois era um educador conhecido e tinha muitas obras publicadas nesse campo.

O Codificador nasceu no dia 3 de outubro de 1804, na cidade de Lyon, na França, e desencarnou em 31 de março de 1869, aos 65 anos de idade. Era casado com a professora Amélie Gabrielle Boudet. Falava quatro idiomas, estudava astronomia e os fenómenos ligados ao magnetismo. Foi discípulo de Pestalozzi, considerado o pai da pedagogia moderna.

3.3 - A CODIFICAÇÃO ESPÍRITA

a) O início

O desenvolvimento da Codificação Espírita basicamente teve início na residência da família Baudin, no ano de 1855. Na casa havia duas moças que eram médiuns. Tratava-se de Julie e Caroline Baudin, de 14 e 16 anos, respectivamente. Através da "cesta-pião", um mecanismo parecido com as mesas girantes, Kardec fazia perguntas aos Espíritos desencarnados, que as respondiam por meio da escrita mediúnica. À medida que as perguntas do professor iam sendo respondidas, ele percebia que ali se desenhava o corpo de uma doutrina e se preparou para publicar o que mais tarde se transformou na primeira obra da Codificação Espírita.

Todo o trabalho da revelação era revisado várias vezes, de modo a se evitar erros ou interpretações dúbias. Na fase de revisão, o professor contou com a preciosa ajuda de outra médium, que era sonâmbula, a srta. Japhet. Depois dela, o Codificador ainda submeteu as questões a outros médiuns. Assim, o trabalho contou com ajuda de pelo menos dez médiuns, nesta primeira fase.

A forma pela qual os Espíritos se comunicavam no princípio era através da cesta-pião que tinha um lápis em seu centro. As mãos das médiuns eram colocadas nas bordas, de forma que os movimentos involuntários, provocados pelos Espíritos, produzissem a escrita. Com o tempo, a cesta foi substituída pelas mãos dos médiuns, dando origem à conhecida psicografia. Das consultas feitas aos Espíritos, nasceu "O Livro dos Espíritos", lançado em 18 de abril de 1857, descortinando para o mundo todo um horizonte de possibilidades no campo do conhecimento.

A partir daí, Allan Kardec dedicou-se intensivamente ao trabalho de expansão e divulgação da Boa Nova. Viajou 693 léguas, visitou vinte cidades e assistiu mais de 50 reuniões doutrinárias de Espiritismo.

Em Janeiro de 1858, o Codificador abraçou uma nova actividade. Inaugurou a Revista Espírita, um mensário cujo objectivo era o de informar os adeptos do Espiritismo sobre o crescimento do movimento e debater questões ligadas à prática doutrinária. Assim, teve início a imprensa espírita. A Revista foi editada por 12 anos.

Em abril de 1858, fundou a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, entidade que se destinava a estudar, entender e explicar a fenomenologia espírita. Foi a primeira sociedade espírita a constituir-se regular e legalmente, tendo exercido grande influência moral entre os outros grupos, por ter sido a sociedade iniciadora e central.

b) Obras da Codificação

Para a orientação dos seguidores do Espiritismo, Allan Kardec editou cinco livros básicos, conhecidos como Pentateuco Kardequiano. São eles: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e A Gênese. Neles, reuniu os ensinamentos da Espiritualidade superior, analisando-os e codificando-os, de forma a ficarem claros e interessantes.

O Livro dos Espíritos (1857): É uma obra de carácter filosófico, que procura explicar de forma racional o porquê da vida. Divide-se em quatro tópicos: "As causas primárias"; "Mundo espírita ou dos Espíritos"; "As leis morais"; e "Esperanças e consolações". É tido como a espinha dorsal do Espiritismo, pois todas as outras obras partem de seus princípios.

O Livro dos Médiuns (1861): Orienta a conduta prática das pessoas que exercem a função de intermediar o mundo espiritual com o material. Mostra aos médiuns os inconvenientes da mediunidade, suas virtudes e os perigos provindos de uma faculdade descontrolada. Ensina a forma de se obter contactos proveitosos e edificantes junto à Espiritualidade. A obra demonstra ainda as consequências morais e filosóficas decorrentes das relações entre o invisível e o visível.

O Evangelho Segundo o Espiritismo (1864): Trata-se da parte moral e religiosa da Doutrina Espírita. Ensina a teoria e a prática do Cristianismo, através de comentários sobre as principais passagens da vida de Jesus, feitos por Allan Kardec e pelos Espíritos superiores. Mostra que as parábolas existentes no Evangelho, que aos olhos humanos parecem fantasias, na verdade exprimem o mais profundo código de conduta moral de que se tem notícia.

O Céu e o Inferno (1865): Neste livro, através da evocação dos Espíritos, Allan Kardec apresenta a verdadeira face do desejado "céu", do temido "inferno", como também do chamado "purgatório". Põe fim às penas eternas, demonstrando que tudo no Universo evolui e que as teorias sobre o sofrimento no fogo do inferno nada mais são do que uma ilusão. Comunicações de Espíritos desencarnados, de cultura e hábitos diversos, são analisadas e comentadas pelo Codificador, mostrando a situação de felicidade, de arrependimento ou sofrimento dos que habitam o mundo espiritual.

A Gênese (1868): Este livro é um estudo a respeito de como foi criado o mundo, como apareceram as criaturas e como é o Universo em suas faces material e espiritual. É a parte científica da Doutrina Espírita. Explica a Criação, colocando Ciência e Religião face a face.

A Gênesis bíblica é estudada e vista como uma realidade científica, disfarçada por alegorias e lendas. Os sete dias narrados nas Escrituras Sagradas são mostrados como o tempo que o Criador teria gasto com a formação do Universo e da Terra; eras geológicas, que seguem a ordem cronológica comprovada pela Ciência em suas pesquisas.

Os "milagres", realizados por Jesus, são explicados como sendo produto da modificação dos elementos da natureza, sob a acção de sua poderosa mediunidade.

3.4 - O TRÍPLICE ASPECTO

Desde as primeiras manifestações dos Espíritos superiores em torno da Codificação da Doutrina, eles deixaram claro que o Espiritismo tinha em si três linhas de acção: Ciência, Filosofia e Religião (moral).
É do espírito Emmanuel, psicografia de Francisco Cândido Xavier, a afirmativa que esclarece perfeitamente o significado tríplice do Consolador:

"Em Espiritismo a Ciência indaga, a Filosofia conclui e o Evangelho ilumina".

a) Princípios fundamentais da Doutrina Espírita

São considerados princípios básicos da Doutrina Espírita: a crença em Deus como princípio criativo; a existência do Espírito e sua sobrevivência após a morte; a reencarnação; a lei de causa e efeito; a influência do mundo invisível sobre o visível; a comunicação entre esses dois mundos e a evolução moral e intelectual progressivas.

O Espiritismo em suas práticas caracteriza-se pela realização do culto interior. Nele, o homem procura conhecer-se e trabalhar para seu adiantamento moral e intelectual. Nada há de exterior em seus costumes. Para os Espíritos superiores tudo depende do pensamento, para o qual o fundo é tudo e a forma nada significa.

"Pelo Espiritismo, o homem sabe de onde vem e para onde vai, porque sofre temporariamente e vê por toda a parte a justiça de Deus. Sabe que a alma progride sem cessar, através de uma série de existências sucessivas, até atingir o grau de perfeição que pode aproximá-la de Deus" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. I, item 30)



Reencarnação

"E, descendo eles do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo: A ninguém conteis a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dos mortos.

"E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Por que dizem os escribas que é mister que Elias venha primeiro?

"E Jesus, respondendo, disse-lhes: Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas;
"Mas digo-vos que Elias já veio, e não o conheceram, mas fizeram-lhe tudo o que quiseram. Assim farão eles também padecer o Filho do Homem.

"Então entenderam os discípulos que lhes falara de João Baptista" - (Mateus, cap. 17 - 9 a 13).

4.0 - A REENCARNAÇÃO

A reencarnação era uma ideia comum nos tempos de Jesus. Nas Escrituras Sagradas, o ponto onde o Mestre refere-se a ela de forma clara e inequívoca é a passagem em que Ele, depois de descer do Monte Tabor, onde mantivera contacto com seus amigos espirituais, afirma de modo inquestionável que João Baptista teria sido a reencarnação do antigo profeta Elias.

Os Espíritos foram criados simples e ignorantes. No início, não possuem o conhecimento do bem ou do mal. São dotados do germe da inteligência e, com o tempo, adquirem consciência de si mesmos. Sua constituição, como já dissemos, é abstracta e o modo como foram criados ainda não foi revelado totalmente pelos Espíritos superiores.

Todo Espírito está destinado à perfeição, e como não poderia atingi-la numa só vida, Deus concede-lhe outras existências, para que possa crescer em inteligência e moralidade. O renascimento sucessivo do Espírito na dimensão material é chamado reencarnação.

A evolução do Espírito se dá progressivamente, pois ela está intimamente ligada à experiência. Através de lutas expiatórias e provas, o Espírito caminha em busca da própria iluminação e aperfeiçoamento. Ao iniciar sua jornada encarnatória nos primeiros estágios evolutivos, o Espírito sofre todo tipo de influências, boas e ruins. Como é ignorante, suas tendências o levam a vivenciar experiências no campo do erro. Nem todos os Espíritos passam pelo caminho do mal, mas obrigatoriamente passam pelo da ignorância.

O Criador concede ao Espírito a liberdade de ceder ou resistir às más influências. Trata-se do "livre arbítrio". Esta liberdade de agir como bem entende, desenvolve-se à medida em que ele adquire consciência de si mesmo. Isso faz com que tenha o mérito de suas próprias acções.

"Se o homem tivesse sido criado perfeito, seria levado fatalmente ao bem; ora, em virtude de seu livre arbítrio, ele não é fatalmente levado nem ao bem nem ao mal. Deus quis que ele fosse submetido à lei do progresso e que esse progresso fosse o fruto de seu próprio trabalho, a fim de que tivesse o mérito desse trabalho, do mesmo modo que carrega a responsabilidade do mal que é feito por sua vontade" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. III, item 9).

Uma encarnação pode ser livre, compulsória ou missionária, dependendo da evolução e da necessidade do Espírito. Cada existência na matéria significa um passo a mais na busca do aperfeiçoamento moral e intelectual. O Espírito pode, por má vontade ou preguiça, manter-se estacionado, mas nunca regride a estágios inferiores ao que se encontra. Tudo o que ele adquire em uma encarnação faz parte de seu património espiritual e ele poderá usar em outras experiências, para seu crescimento.

O número de encarnações necessárias ao esclarecimento definitivo do Espírito varia entre eles. Os que estiverem imbuídos de boa vontade, tendem a atingir a perfeição mais rápido. Os que se deixam iludir no caminho, perdem tempo e demoram mais para atingir o grau de Espíritos puros. Tudo funciona mais ou menos como numa escola, onde se aprende muito, pouco ou nada, de acordo com o esforço de cada um. E como numa escola, aqueles que não adquirirem condições não poderão ascender a classes mais adiantadas.

É durante suas reencarnações que o Espírito tem oportunidades para reparar erros e sofrer experiências libertadoras. O mundo material é, portanto, uma importante escola de aprendizado. No mundo espiritual se colhe os frutos daquilo que se planta em vida. Todos os Espíritos sofrem as vicissitudes da existência corpórea; uns para expiar seus erros; outros, mais evoluídos, para provarem virtudes ou cumprirem missões.

A reencarnação é a chave que explica a Justiça e a Misericórdia de Deus. Através dela, todas as aparentes injustiças podem ser compreendidas. Todos os erros podem ser redimidos por meio de novas experiências e os Espíritos, cedo ou tarde, encontram o caminho do Bem.

"Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" - (I Coríntios, 15.19).

4.1 - LEI DE CAUSA E EFEITO

O Criador concede a seus filhos o livre arbítrio, ou seja, a liberdade de agirem como bem entenderem. Porém, todas essas acções estão sujeitas a uma lei natural de justiça, chamada de "causa e efeito", "acção e reacção" ou "plantio e colheita". É por meio desta lei que somos responsáveis por tudo quanto fazemos ao próximo ou ao nosso próprio Espírito.

Livre é a semeadura das atitudes, porém, obrigatória é a colheita de suas consequências. Uma má acção, que prejudique o próximo ou a nós mesmos, resultará numa reacção contrária de igual intensidade. Esta é uma maneira sábia da Lei ensinar a não repetirmos o erro. A Lei não castiga, mas corrige.

O princípio de causa e efeito não foi criado pelo Espiritismo. Ele é uma das leis da Física promulgada pelo sábio Isaac Newton, que tem o seguinte enunciado:

"A toda acção realizada num determinado sentido, corresponderá uma reacção de mesma intensidade e direcção oposta".

Muitos sofrimentos de pessoas ou povos que se observam na actualidade, são perfeitamente explicados pelo mecanismo da acção e reacção da Lei de Deus. Obras más, de encarnações passadas neste ou noutros mundos, provocam colheitas desagradáveis na presente existência. Do mesmo modo, se o Bem for objecto de preocupação das criaturas, o futuro guardará para elas uma situação de paz, satisfação e felicidade.

A dor moral ou física deve ser encarada sem revoltas, pois geralmente são resgates ou provas necessárias ao adiantamento do Espírito. A aceitação das próprias dores produz alívio moral e ajuda na solução definitiva do problema. Só o esclarecimento pode retirar o homem do estado de revolta diante do sofrimento. A fé raciocinada é seguro escudo nas aflições pelas quais necessitamos passar.

De posse deste conhecimento correctivo da Lei, nós, seres humanos, devemos nos empenhar em acções de justiça e de benemerência para com o próximo, estimulando assim a Lei Divina em favor de nós mesmos.

"Porém os males mais numerosos são aqueles que o homem criou para si, por seus próprios vícios, aqueles que provêm de seu orgulho, de seu egoísmo, de sua ambição, de sua cobiça, de seus excessos em todas as coisas; aí está a causa das guerras e das calamidades que elas geram, das dissensões, das injustiças, da opressão do fraco pelo mais forte, enfim, da maior parte das moléstias" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. III, item 6).

4.2 - CARMA

Carma é uma palavra sânscrita* que significa acção. Não é um termo encontrado na Codificação Espírita, mas é usado hoje por muitos dos que se interessam pelo Espiritismo. Achamos por bem comentar seu significado de modo que se possa compreender seu real sentido.

Pode-se afirmar que o Carma é a história do Espírito, desde que teve sua primeira encarnação no plano material. Quando começou sua acção evolutiva, teve início seu Carma.

Ao contrário do que se pensa, Carma não é sinónimo de sofrimento. Carma é a "gravação" psíquica, existente no Espírito, contendo suas acções. É uma espécie de bagagem histórica, que lhe é própria. São suas virtudes, defeitos, créditos, débitos e tendências que formam a personalidade. A cada encarnação o Carma se modifica pela experiência na matéria. A educação e os costumes do povo onde o Espírito encarna dão a ele novas características morais e intelectuais.

A lei de causa e efeito, agindo nas encarnações, regula a evolução do Carma modificando e renovando o património psicológico do Espírito.

* O sânscrito é uma das mais antigas línguas da Índia.

4.3 - A MORTE

Para sofrer suas experiências no mundo material, o Espírito se une a um corpo carnal, através do perispírito que lhe serve de elo. O corpo funciona como um instrumento de trabalho para a criatura. É movido por uma espécie de força motriz, derivada do "fluido vital".

A morte é a desorganização do corpo carnal. À medida que envelhece, ele desgasta-se materialmente. Quando ocorre a morte física há o consequente desligamento entre o perispírito e o corpo orgânico. Esse desprendimento faz com que a entidade retorne ao plano espiritual, que é a sua verdadeira pátria. No Espiritismo, a morte é denominada "desencarnação".

Logo depois da morte do corpo carnal, o Espírito fica mais ou menos confuso quanto ao seu novo estado. Esta situação chama-se "perturbação" e vai cessando gradualmente, variando em termos de tempo de acordo com o nível evolutivo do Espírito.

Aos poucos, o desencarnado vai tomando consciência de sua nova condição de Espírito livre e sua mente vai se adaptando à dimensão espiritual. Com essa melhoria, começa a compreender o estado de liberdade e anseia pelo progresso. Alguns Espíritos desencarnados ficam em estado de perturbação por muito tempo. A perturbação é um estado psíquico transitório que pode durar de alguns minutos a anos.

4.4 - A VIDA DOS ESPÍRITOS

Após a morte física, as obras que se realizou no plano material determinam a situação de vida que o Espírito vai ter no plano espiritual.

No intervalo de suas existências corpóreas o Espírito permanece por tempo mais ou menos longo no mundo espiritual, onde é feliz ou infeliz segundo o bem ou mal que tenha praticado. A vida espiritual é na verdade sua verdadeira vida, seu estado definitivo. Nela ele progride igualmente e adquire conhecimentos especiais que não poderia adquirir na Terra. É onde se prepara para novas lutas no campo da matéria até que tenha se tornado puro e sem necessidade de novas experiências carnais.

O Espírito, portanto, depois de desencarnado, vai habitar em regiões astrais com as quais possui afinidade moral. Para facilitar o entendimento dos que estão iniciando no estudo da ciência espírita, falaremos desses lugares utilizando a forma como são concebidos pelo povo. Mas lhes daremos as características difundidas, aceitas e explicadas pela Doutrina Espírita.

a) O inferno

O Inferno é uma expressão bíblica, usada pelas religiões convencionais para designar as regiões espirituais onde habitam os maus Espíritos. A imagem que foi feita dele na doutrina cristã foi originada do paganismo, perpetuada pelos escritos dos poetas gregos. Não tendo o perfeito entendimento da vida espiritual nem da justiça de Deus, imaginou-se que os homens maus só poderiam merecer um castigo eterno.

A Doutrina Espírita veio nos esclarecer sobre esse importante dogma das penas eternas, difundido pelas religiões oficiais da época. Ensina que o Inferno é a morada temporária de entidades primitivas e malignas, inimigas dos princípios do Bem e revoltadas contra a misericórdia de Deus. Nessas regiões permanecem transitoriamente as almas dos que se comprazem no assassínio, no furto, na mentira, na luxúria e nas paixões humanas.

Os Espíritos desencarnados que vão para essas regiões astrais não ficam nelas definitivamente, como se pensava a princípio. Eles permanecem ali por períodos variáveis, até que surjam novas oportunidades de reencarnação. Todos os Espíritos inferiores, habitantes das dimensões trevosas, cedo ou tarde encontrarão sua luz através do esclarecimento reencarnatório.

Ou seja, o inferno, ou trevas segundo a Doutrina Espírita, é um estado de consciência compartilhado por aqueles cujos defeitos e sentimentos ruins predominam em suas personalidades, que se inclinam ao mal e nele se comprazem. São apenas irmãos imperfeitos e ignorantes, que têm o inferno dentro de suas próprias consciências e que, através de novas oportunidades dadas pelo Pai Celestial, através de sucessivas experiências encarnatórias também alcançarão a perfeição.

b) O purgatório

Purgatório é um termo usado comumente no Catolicismo. Foi criado pela "necessidade" de abrigar as almas dos que não eram muito maus para habitar o inferno, nem tão bons para merecer o céu. Nas obras espíritas acessórias, convencionou-se denominá-lo pela expressão "Umbral" e diz-se que é a região espiritual purgatorial próxima da Terra. A maioria dos recém desencarnados passa um período mais ou menos longo neste lugar, ou situação psíquica, a fim de reflectir sobre suas obras. O Umbral é uma dimensão de muito sofrimento. Abriga grande número de entidades em condições de dor e angústia. Aí instalam-se as colónias socorristas, tais como "Nosso Lar" e outras narradas na literatura mediúnica, para amparo dos Espíritos que são recolhidos nessas situações. Allan Kardec diz que o purgatório dos Espíritos também pode ser os mundos de expiação.

"O purgatório não é, portanto, uma ideia vaga e incerta: é uma realidade material que vemos, tocamos e sofremos. Ele se encontra nos mundos de expiação e a Terra é um deles. Os homens expiam nela o seu passado e o seu presente em benefício do seu futuro" - (Allan Kardec - O Céu e o Inferno, cap. V, item 4).

c) O paraíso

É a região astral onde moram os Espíritos puros e os bons Espíritos, que já adquiriram saber e moralidade. Esses planos são denominados popularmente de "paraísos" ou "colónias de luz". Alguns Espíritos que habitam essas regiões estão livres de encarnações, outros não. Os Espíritos puros podem reencarnar-se em mundos mais ou menos atrasados, para cumprirem missões.

Entretanto, não são mundos de contemplação como nos acostumamos a pensar. Ao contrário, são lugares de trabalho e acção no campo do Bem e do Saber. É onde o Espírito experimenta a verdadeira felicidade.

"A felicidade dos Espíritos bem-aventurados não está na ociosidade contemplativa, que seria, como frequentemente se diz, uma eterna e fastidiosa inutilidade.

"...A suprema felicidade consiste em desfrutar todos os esplendores da Criação, que nenhuma linguagem humana poderia exprimir, que a mais fecunda imaginação não poderia conceber. Consiste no conhecimento e compreensão de todas as coisas, na ausência de qualquer sofrimento físico e moral, na satisfação íntima, na serenidade do Espírito que nada altera, no amor que une a todos os seres e portanto na ausência de todo o aborrecimento proveniente da relação com os maus, e acima de tudo na visão de Deus e na compreensão de seus mistérios revelados aos mais dignos" - (Allan Kardec - O Céu e o Inferno, cap. III, item 12).


 


MEDIUNIDADE

"E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos mancebos terão visão, e os vossos velhos sonharão sonhos;

E também do meu Espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas naqueles dias, e profetizarão;" - (Atos, cap. 2 - 17 e 18).

5.0 - O QUE É A MEDIUNIDADE

A mediunidade é uma sensibilidade existente nos seres vivos. É uma espécie de "janela" pela qual se recebem as influências do plano espiritual. Toda criatura viva possui mediunidade ou ao menos seus rudimentos. No homem, ela se apresenta mais complexa e pode, em alguns casos, ser utilizada de "ponte" entre os dois planos da vida.

Allan Kardec denominava "médiuns" somente as pessoas capazes de produzir fenómenos ostensivos com suas faculdades.

"Quem quer que seja apto a receber ou transmitir as comunicações dos Espíritos é, por isso mesmo, um médium, seja qual for o meio empregado e o grau de desenvolvimento da faculdade - desde a mais simples influência oculta até a produção dos mais insólitos fenómenos. Contudo, no uso corrente, o vocábulo tem uma acepção mais restrita e se diz geralmente das pessoas dotadas de um poder mediatriz muito grande, tanto para produzir efeitos físicos, como para transmitir o pensamento dos Espíritos pela escrita ou pela palavra" - (Allan Kardec, Revista Espírita, Fevereiro, 1859).

A mediunidade independe das condições morais do indivíduo. Às vezes, criaturas de moral duvidosa possuem belíssimas faculdades, enquanto outras, probas, cultas, dedicadas às coisas de Deus, não conseguem produzir nem mesmo pequenos efeitos. A mediunidade, conforme a define Allan Kardec, depende de uma organização física mais ou menos apropriada para manifestar-se. É proveniente de uma disposição orgânica existente entre as ligações do corpo carnal com o perispírito.

Existem dois obstáculos que dificultam a prática da mediunidade de modo racional e produtivo. O primeiro deles é o uso que se pode dar à faculdade. Há médiuns que a utilizam de forma incorrecta e prejudicial a quem deles se serve. Tornam-se adivinhadores ou meros ledores de sorte. O outro problema é a presença ostensiva de Espíritos inferiores junto dos médiuns, quando começam o exercício da faculdade. Tal fato constitui-se em verdadeiro estorvo ao progresso dos iniciantes, principalmente quando ainda estão envolvidos naturalmente pela insegurança.

5.1 - A MEDIUNIDADE E SEUS FINS

A mediunidade tem várias finalidades para o ser humano. No serviço de intercâmbio mediúnico, ela torna-se o elo entre os dois mundos, o físico e o espiritual, demonstrando através dos fenómenos, a existência das coisas invisíveis. Permite que os Espíritos desencarnados nos enviem mensagens esclarecedoras falando da vida e do Universo criado por Deus. Ajuda-nos a curar e aliviar as dores físicas e morais de enfermos e desajustados.

O canal mediúnico é a via de acesso que o Espírito encarnado mantém permanentemente aberta para o mundo invisível. Por ele, a criatura recebe influências positivas e negativas, que a excita ao progresso. Usando do seu livre-arbítrio, o Espírito poderá segui-las ou ignorá-las, colhendo com isso, os frutos da lei de plantio e colheita.

Através de milhares de encarnações, o Espírito segue o caminho do crescimento espiritual, até adquirir sabedoria e domínio sobre suas más inclinações. Os Espíritos encarnados exercem constante influência sobre os desencarnados e vice-versa. Esta interinfluenciação se dá através dos pensamentos e dos sentimentos individuais e colectivos.

Embora a faculdade propriamente dita seja orgânica, o uso bom ou mal que o médium pode dar a ela depende de sua qualidade moral. Por isso, o médium que não trabalha em sua própria edificação, torna-se presa fácil de maus Espíritos, dando finalidade imprópria para um dom que lhe foi dado por Deus para que servisse como instrumento de sua melhoria interior.

"Se o médium é de baixa moral, os Espíritos inferiores se agrupam em torno dele e estão sempre prontos a tomar o lugar dos bons Espíritos a que ele apelou. As qualidades que atraem de preferência os Espíritos bons são: a bondade, a benevolência, a simplicidade de coração, o amor ao próximo, o desprendimento das coisas materiais" - (Allan Kardec - O Livro dos Médiuns, questão 227).

5.2 - TIPOS DE MÉDIUNS

"Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.
Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência;

E a outro, pelo mesmo Espírito a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar;

E a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os Espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas" - (I Coríntios, cap. 12, 7-10).
Os médiuns podem ser divididos em duas grandes categorias: médiuns de efeitos físicos e médiuns de efeitos intelectuais. Cada uma delas tem uma finalidade específica frente à humanidade do nosso tempo.

a) Médiuns de Efeitos Físicos

São os médiuns dotados de faculdade capaz de produzir efeitos materiais ostensivos. Seus trabalhos têm a finalidade de chamar a atenção da incredulidade humana para a existência dos Espíritos e do mundo invisível. Produzem fenómenos materiais, tais como: movimento de corpos inertes, ruídos, voz directa, curas fenoménicas, transportes etc.

Os médiuns de efeitos físicos podem ser divididos em dois grupos: os facultativos, que têm consciência dos fenómenos que produzem; e os involuntários, ou naturais, que não possuem consciência de suas faculdades e são usados pelos Espíritos para promoverem manifestações sem que o saibam. Certas comunicações dadas por Espíritos desencarnados através de aparelhos electrónicos (TCI), onde alguns autores disseram não haver necessidade da presença da mediunidade, foram produzidas por acção de médiuns de efeitos físicos involuntários.

Esse tipo de médium era muito comum no advento do Espiritismo e foi muito útil na divulgação das ideias espíritas, chamando a atenção das pessoas para a realidade do fenómeno.

b) Médiuns de Efeitos Intelectuais

São os médiuns dotados de faculdades que produzem comunicações inteligentes, com as quais é possível aprender conceitos morais e filosóficos. Essas manifestações nos ajudam a entender o mundo invisível e o estilo de vida que levam os seus habitantes. Existe uma grande variedade de médiuns, que se ligam mais ou menos directamente a uma ou a outra dessas duas categorias. Em estudos futuros, que realizaremos em O Livro dos Médiuns, serão tratados os pormenores sobre a classificação que Allan Kardec deu a cada tipo de médium e às manifestações mediúnicas. A título de instrução básica, faremos alguns comentários sobre os tipos de médiuns mais encontrados:

Médiuns Sensitivos ou Impressionáveis: São as pessoas que possuem sensibilidade capaz de sentir com facilidade a presença dos Espíritos. Essa mediunidade não é bem definida, pois os médiuns em geral são impressionáveis. Seria mais uma qualidade geral do que especial, ou seja, uma faculdade rudimentar, essencial ao desenvolvimento das outras.

Médiuns Audientes ou Auditivos: Os médiuns auditivos ou audientes são aqueles capazes de ouvirem a voz dos Espíritos de forma clara e inequívoca. Tais fenómenos ocorrem geralmente nas reuniões mediúnicas. Podem, assim, conversar com os desencarnados, ouvindo e transmitindo suas instruções para o plano material. Este tipo de mediunidade é agradável se o médium só ouve Espíritos bons. Mas, quando cai presa de um Espírito mau, pode caracterizar-se numa tenaz obsessão.

Médiuns Falantes ou de Psicofonia: São os médiuns que recebem comunicações dos Espíritos através da fala. O médium psicofónico pode não ter consciência do que diz, exprimindo ideias totalmente contrárias aos seus conhecimentos. Uns guardam lembranças claras do que transmitem; outros não.

Há médiuns que recebem as ideias dos Espíritos por meio do canal intuitivo, também denominado "mediunidade natural", expondo com suas próprias palavras o que a entidade quer revelar.

Médiuns Videntes: Os médiuns videntes são aqueles com capacidade para captar imagens do mundo espiritual. Uns possuem esta faculdade em estado normal, perfeitamente acordados. Outros, têm-na em estado sonambúlico ou próximo do sonambulismo.

Os médiuns videntes não vêem com os olhos carnais, mas sim com os da alma. Por isso, independe de estarem de olhos abertos ou fechados para enxergarem os Espíritos.

É preciso saber separar a vidência propriamente dita, das aparições acidentais e espontâneas. A vidência, embora varie de intensidade, consiste na possibilidade mais ou menos frequente de se ver os Espíritos. A interpretação das visões espirituais varia de um médium para outro, segundo sua condição evolutiva. Já as aparições podem acontecer para qualquer um, mesmo para as pessoas que não sejam videntes.

As aparições acidentais de Espíritos, são frequentes na hora do desencarne de entes queridos, que se encontram distantes. Nesses casos, os Espíritos aparecem à parentela, como se quisessem dar testemunho de que estão vivos e que partem para uma nova vida. Diz-se, popularmente, que vieram avisar de sua morte.
As visões durante o sono do corpo físico também fazem parte da categoria das aparições.

Médiuns Sonâmbulos ou Sonambúlicos: Os médiuns sonâmbulos ou sonambúlicos são os que, durante o transe de desdobramento mediúnico, agem sob a influência do seu próprio Espírito. São eles mesmo que, desprendendo-se de seus corpos físicos, projectam-se no mundo espiritual e conversam com os desencarnados, vendo, ouvindo e percebendo o que vai à sua volta. Vivem, durante breves instantes, a liberdade dos Espíritos livres. Seus sentidos não sofrem as limitações provocadas pela matéria.

Este tipo de médium pode nos transmitir tudo o que lhe acontece durante o transe, inclusive falar dos conselhos que recebe dos bons Espíritos, quando no plano espiritual. Também são conhecidos como "sonâmbulos", os médiuns que perdem a consciência durante as comunicações.

Médiuns Curadores: São médiuns curadores aquelas pessoas que possuem o poder magnético (ou dom) de curar as enfermidades orgânicas, ou aliviar dores pela imposição das mãos ou pela prece. A fé, aliada ao magnetismo do médium e auxílio dos bons Espíritos, realiza os fenómenos de curas. Jesus era um médium curador em potencial.

Os médiuns curadores, por produzirem efeitos materiais, também podem ser classificados como médiuns de "efeitos físicos". O dom de curar é um dos mais belos que o médium pode adquirir, mas exige dele uma vida de exemplos e de sadia moral.

Médiuns Psicógrafos ou Escreventes: São os que transmitem as comunicações dos Espíritos através da escrita. Estes médiuns são muito comuns. Dividem-se em: mecânicos, semimecánicos e intuitivos.

Os mecânicos não têm consciência do que escrevem. A influência do pensamento do médium na comunicação é quase nula. A ideia do Espírito desencarnado se expressa com maior clareza, pois há grande domínio da entidade sobre a faculdade mediúnica.

Já nos semimecánicos, a comunicação sofre uma influência um pouco maior do pensamento do médium. A dominação do Espírito sobre suas faculdades não é tão profunda. São a maioria entre os médiuns psicógrafos.

Os médiuns intuitivos são os que recebem a ideia do comunicante e a interpretam de acordo com seu conhecimento pessoal. Existem outras variedades de médiuns que serão estudadas futuramente em O Livro dos Médiuns, no capítulo que trata de sua classificação.

5.3 - CONSEQÜÊNCIAS MORAIS DA PRÁTICA MEDIÚNICA

A prática da mediunidade no Espiritismo não tem como meta somente a produção de fenómenos físicos, destinados a despertar os incrédulos, ou curar enfermidades carnais e espirituais. As actividades curativas, além de demonstrarem a acção da Misericórdia Divina, servem ainda para alertar o ser humano de que ele é algo mais do que matéria. Deve despertá-lo para o real sentido da vida, provocando-lhe uma consequência de ordem moral.

Frente ao mundo terreno, repleto de interesses imediatistas, o homem busca sua felicidade afogando-se nas ilusões provocadas pela matéria. Perde-se em paixões transitórias, não atentando para o nobre ideal da vida, que é o aprendizado e o progresso do Espírito como criatura imortal. A mediunidade é um meio pelo qual os Espíritos superiores apresentam novos conceitos e horizontes mais amplos às pessoas. Isso lhes renova o ânimo e as esperanças em relação ao futuro.

O contacto com o mundo espiritual, através da mediunidade, nos mostra que, pela acção da Lei de Causa e Efeito, colhemos tudo aquilo que plantamos. Que uma vida egoísta e orgulhosa só conduz ao sofrimento, ao passo que uma conduta pautada nas orientações do Evangelho encaminha-nos para um estado de equilíbrio e à verdadeira felicidade.

É pela mediunidade que somos esclarecidos que, ao morrermos, vivemos; que encarnaremos em outras ocasiões, ora numa condição social, ora noutra; que os princípios morais ensinados por Jesus, o Cristo, fazem nascer na intimidade dos homens o tão sonhado Reino de Deus.

Por fim, a pessoa que abraça tão nobre tarefa tem em mãos uma grande ferramenta de crescimento espiritual, uma vez que depende de sua condição moral o contacto com as forças espirituais do Bem. Agindo como instrumento nesse intercâmbio, sabe que depende de seu esforço pessoal o bom ou mau uso que fizer do dom que Deus lhe deu.

"Todas as nossas faculdades são favores que devemos agradecer a Deus, pois há criaturas que não as possuem. Podias perguntar porque Deus concede boa visão a malfeitores, destreza aos larápios, eloquência aos que só a utilizam para o mal. Acontece o mesmo com a mediunidade. Criaturas indignas a possuem porque dela necessitam mais do que as outras, para se melhorarem" - (Livro dos Médiuns - Questão 226, item 2).


 

OS FLUIDOS


"... e quando semeias, não semeias o corpo que há de ser, mas o simples grão, como de trigo ou de qualquer outra semente.

Mas Deus dá o corpo como lhe aprouve dar e a cada uma das sementes, o seu corpo apropriado.
Nem toda carne é a mesma; porém uma é a carne dos homens, outra a dos animais, outra a das aves, outra a dos peixes.

Também há corpos celestiais e corpos terrestres; e, sem dúvida, uma é a glória dos celestiais e outra, a dos terrestres.

Uma é a glória do sol, outra a glória da lua, outra a das estrelas; porque até entre as estrelas há diferenças de esplendor" - (I Coríntios, cap. 15 - 37 a 41).


6.0 - CONSIDERAÇÕES

Um dos grandes mistérios que a Ciência humana procura esclarecer é o da existência de uma matéria básica universal, capaz de servir como ponto de partida para a origem dos elementos físicos conhecidos. Embora pesquisadores em todo o mundo tenham se empenhado no estudo da estrutura íntima dos átomos, ainda não se conseguiu encontrar esse elemento básico primitivo. Acredita-se que o Universo, em seu lado material, tenha uma idade calculada aproximadamente entre 9 e 16 bilhões de anos. Estudos modernos afirmam que no princípio todos os elementos materiais estavam reunidos num só "ponto’’, sob uma pressão incalculável. Num dado momento, esse ponto teria explodido, dispersando matéria pelo espaço, dando origem às nebulosas, aos sistemas estelares, aos planetas e aos astros.

O Universo, de acordo com a física moderna, continua a se expandir e não se sabe até quando continuará neste processo. A Ciência entende que, encontrando o elemento material primitivo, estaria frente à solução de muitos mistérios sobre a origem das coisas.

No século XIX, quando começaram as manifestações dos Espíritos, eles revelaram uma teoria onde explicavam de forma racional a origem das coisas materiais e espirituais. Diziam que havia por toda a Criação um elemento primitivo etéreo, denominado "fluido universal", e que todos os elementos materiais conhecidos seriam formas modificadas deste fluido.

Alguns cientistas no passado pesquisaram a matéria básica, também denominada "éter", mas não conseguiram convencer os meios científicos de sua existência. A Ciência não podia compreender a presença, no espaço, de uma matéria tão subtil que não fosse detectada pelos instrumentos existentes. O Espiritismo, através dos fenómenos de efeitos físicos, demonstrou a existência do fluido universal, base de todos os elementos materiais.

6.1 - FLUIDO UNIVERSAL

O fluido universal é a matéria básica fundamental de todo o Universo material e espiritual, a matéria elementar primitiva. É altamente influenciável pelo pensamento (que é uma forma de energia), podendo se modificar, assumir formas e propriedades particulares.

A acção do Pensamento Divino sobre o fluido universal deu origem às nebulosas, aos sistemas estelares, aos planetas e astros. É nessa matéria fluídica que o Criador executa o plano existencial.

O fluido universal preenche todo o espaço existente entre os mundos. Por meio dele viajam as ondas do pensamento, do mesmo modo que as ondas sonoras se projectam na camada atmosférica.

Em torno dos planetas, o fluido universal apresenta-se modificado. A presença da vida no orbe impõe-lhe características especiais, pois que é alterado pela actividade mental dos habitantes. Assim, nos mundos mais primitivos, o fluido universal que os circunda apresenta-se escuro e pesado. Nos mundos mais civilizados, a atmosfera espiritual é mais leve e luminosa.

Para melhor compreensão, pode-se dizer que esse princípio elementar tem dois estados distintos: o da imponderabilidade ou de eterização (estado normal primitivo), e o de ponderabilidade ou de materialização. Ao primeiro estado pertencem os fenómenos do mundo invisível e ao segundo os do mundo visível. Logicamente entre os dois pontos existem inúmeras formas intermediárias de transformação do fluido em matéria tangível.

No estudo deste importante assunto poderemos entender a origem de muitas afecções do ser humano e os fundamentos da fluidoterapia, largamente empregada nos centros espíritas, na profilaxia e tratamento das enfermidades físicas e espirituais.

"No estado de eterização, o fluido universal não é uniforme; sem cessar de ser etéreo, passa por modificações tão variadas em seu género, e mais numerosas talvez, do que no estado de matéria tangível. Tais modificações constituem fluidos distintos que, se bem sejam procedentes do mesmo princípio, são dotados de propriedades especiais, e dão lugar aos fenómenos particulares do mundo invisível. Uma vez que tudo é relativo, esses fluidos têm para os Espíritos, que em si mesmo são fluídicos, uma aparência material quanto a dos objectos tangíveis para os encarnados, e são para eles o que para nós são as substâncias do mundo terrestre; eles as elaboram, as combinam para produzir efeitos determinados como o fazem os homens com seus materiais, embora usando processos diferentes" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 3).

6.2 - FLUIDO VITAL

Os Espíritos afirmam que uma das modificações mais importantes do fluido universal é o fluido vital. Ele é o responsável pela força motriz que movimenta os corpos vivos. Sem ele, a matéria é inerte. Podemos dizer que ele é responsável pela animalização da matéria, pois, segundo os Espíritos, a vida é resultado da acção de um agente sobre a matéria. Esse agente é o fluido vital. É ele que dá vida a todos os seres que o absorvem e assimilam. A matéria sem ele não tem vida assim como ele sem a matéria não é vida.

Quando os seres orgânicos perdem a vitalidade, por ocasião da morte, a matéria se decompõe formando novos corpos e o fluido vital volta à massa, ao todo universal, para novas combinações e utilizações no Universo.

Cada ser tem uma quantidade de fluido vital, de acordo com suas necessidades. As variações dependem de um série de factores. Allan Kardec nos instrui sobre o assunto em O Livro dos Espíritos, pergunta 70:

"A quantidade de fluido vital não é a mesma em todos os seres orgânicos: varia segundo as espécies e não é constante no mesmo indivíduo, nem nos vários indivíduos de uma mesma espécie. Há os que estão, por assim dizer, saturados de fluido vital, enquanto outros o possuem apenas em quantidade suficiente. É por isso que uns são mais activos, mais enérgicos, e de certa maneira, de vida superabundante.

A quantidade de fluido vital se esgota. Pode tornar-se incapaz de entreter a vida, se não for renovada pela absorção e assimilação de substâncias que o contêm.

O fluido vital se transmite de um indivíduo a outro. Aquele que o tem em maior quantidade pode dá-lo ao que tem menos, e em certos casos fazer voltar uma vida prestes a extinguir-se".

Estudando esses fundamentos à luz do Espiritismo, chegamos à compreensão de muitas coisas simples que nos pareciam complicadas e irreais, como por exemplo a citação de Moisés na Bíblia sobre a origem do homem. Diz ele: " Deus formou o corpo do homem do limo da terra e lhe deu uma alma vivente à sua semelhança". Ele estava certo, pois queria dizer que o corpo material era formado dos mesmos elementos que tinham servido para formar o pó da terra. A "alma vivente à sua semelhança" é o princípio inteligente ou espiritual retirado da essência divina, fazendo grande distinção entre o material e o espiritual.

O homem pode manter o equilíbrio de sua saúde vital através da alimentação, da respiração de ar não poluído e, acima disso, mantendo uma conduta mental sadia. O Princípio vital é a lei que rege a existência do fluido vital.

6.3 - ATMOSFERA FLUÍDICA

"Os maus pensamentos corrompem os fluidos espirituais, como os miasmas deletérios corrompem o ar respirável" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

Vimos que o pensamento exerce uma poderosa influência nos fluidos espirituais, modificando suas características básicas.

Os pensamentos bons impõem-lhes luminosidade e vibrações elevadas que causam conforto e sensação de bem estar às pessoas sob sua influência. Os pensamentos maus provocam alterações vibratórias contrárias às citadas acima. Os fluidos ficam escuros e sua acção provoca mal estar físico e psíquico.

Pode-se concluir assim, que em torno de uma pessoa, de uma família, de uma cidade, de uma nação ou planeta, existe uma atmosfera espiritual fluídica, que varia vibratoriamente, segundo a natureza moral dos Espíritos envolvidos.

À atmosfera fluídica associam-se seres desencarnados com tendências morais e vibratórias semelhantes. Por esta razão, os Espíritos superiores recomendam que nossa conduta, nas relações com a vida, seja a mais elevada possível. Uma criatura que vive entregue ao pessimismo e aos maus pensamentos, tem em volta de si uma atmosfera espiritual escura, da qual aproximam-se Espíritos doentios. A angústia, a tristeza e a desesperança aparecem, formando um quadro físico-psíquico deprimente, que pode ser modificado sob a orientação dos ensinos morais de Jesus.

"A acção dos Espíritos sobre os fluidos espirituais tem consequências de importância directa e capital para os encarnados. Desde o instante em que tais fluidos são o veículo do pensamento; que o pensamento lhes pode modificar as propriedades, é evidente que eles devem estar impregnados das qualidades boas ou más, dos pensamentos que os colocam em vibração, modificados pela pureza ou impureza dos sentimentos" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 16).

À medida que cresce através do conhecimento, o homem percebe que suas mazelas, tanto físicas quanto espirituais, é directamente proporcional ao seu grau evolutivo e que ele pode mudar esse estado de coisas, modificando-se moralmente. Aliando-se a boas companhias espirituais através de seus bons pensamentos, poderá estabelecer uma melhor atmosfera fluídica em torno de si e, consequentemente, do ambiente em que vive. Resumindo, todos somos responsáveis pelo estado de dificuldades morais que vive o planeta actualmente.

"Melhorando-se, a humanidade verá depurar-se a atmosfera fluídica em cujo meio vive, porque não lhe enviará senão bons fluidos, e estes oporão uma barreira à invasão dos maus. Se um dia a Terra chegar a não ser povoada senão por homens que, entre si, praticam as leis divinas do amor e da caridade, ninguém duvida que não se encontrem em condições de higiene física e moral completamente outras que as hoje existentes" - (Allan Kardec - Revista Espírita, Maio, 1867).

6.4 - O PERISPÍRITO

"Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual" - (Coríntios I, cap. 15, versículo 44).

Sabe-se que a alma é revestida por um envoltório ou corpo fluídico, chamado perispírito, constituído das modificações do fluido universal. É, por assim dizer, uma condensação do fluido cósmico em redor do foco de inteligência ou alma, deduzindo-se daí que o corpo perispiritual e o corpo humano têm sua fonte no mesmo fluido, posto que sob dois estados diferentes.

O perispírito, ou corpo astral, pode ser definido como um veículo intermediário entre o Espírito e a matéria. É o agente das sensações externas. Paulo de Tarso, na Bíblia, chamou-o corpo espiritual.

O Espírito, quando encarnado, não age directamente sobre os corpos materiais. Sua natureza abstracta não o permite. O perispírito é o laço que serve de elo entre ambos, pois, enquanto de um lado sofre a influência do pensamento, do outro exerce contacto com a matéria. É o perispírito quem transmite as ordens conscientes e inconscientes do Espírito para a actuação do corpo físico. No sentido contrário, o corpo astral leva as sensações captadas pelo corpo físico à apreciação da alma.

a) Constituição do perispírito

O corpo espiritual é de natureza semimaterial, constituído de uma modificação do fluido universal do orbe onde o Espírito está encarnado. A estrutura do perispírito varia de mundo para mundo. Quanto mais evoluído é o planeta, mais subtil é o corpo fluídico dos que nele vivem. O perispírito modifica-se de acordo com a evolução do Espírito. Isso se dá por causa da influência do pensamento da entidade, na estrutura molecular do corpo espiritual. Diz Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, pergunta 182: "À medida que o Espírito se purifica o corpo que o reveste aproxima-se igualmente da natureza espírita".

O perispírito não é uma massa homogénea. Possui órgãos como o corpo físico e centros vitais, por onde são absorvidas as energias espirituais.

Segundo as provas que certos Espíritos devem passar em suas encarnações, o corpo astral poderá exercer influência na formação do corpo carnal, dando origem a enfermidades ou anomalias orgânicas.

perispírito é altamente plasmável. Quando o Espírito está em liberdade, pode mudá-lo de forma pela acção da sua vontade. Esta propriedade explica as frequentes referências às aparições de seres angelicais e demoníacos, narradas na história da humanidade.

As aparições de Espíritos são chamadas "materializações". Nesses fenómenos, o que se vê é o perispírito da criatura manifesta e não o Espírito, como pensam alguns.

b) Funções do perispírito

Quando migra de um mundo para outro, o Espírito troca de perispírito como se trocasse de roupa, pois seu corpo espiritual é formado de uma variação do fluido universal, existente em torno do planeta onde encarna.

O corpo fluídico reflecte as experiências da entidade, mas não é a sede da memória. O perispírito registra as experiências vividas pela criatura e as envia ao "sensorium comune" do Espírito (que é o próprio Espírito), arquivo definitivo de todas as passagens da entidade pelo processo evolutivo.

Sabe-se que os fluidos são o veículo do pensamento do Espírito e que este pode imprimir naqueles as características que lhe aprouver, com a força de sua vontade, exercendo sobre a matéria a acção resultante desta actuação. É através do perispírito que se dá essa acção na matéria. Funciona, portanto, como uma esponja que absorve do meio as emanações fluídicas boas ou más existentes nele. Deduz-se daí a origem de certos processos de enfermidades, como também compreende-se os mecanismos da cura através da fluidoterapia.

O perispírito tem importante papel nos fenómenos psicológicos, fisiológicos e patológicos. Quando a Medicina humana der abertura aos conhecimentos da Ciência Espírita, ela abrirá novos horizontes para uma abordagem e um tratamento mais completos das moléstias orgânicas e psíquicas. O Espiritismo contribuirá com as técnicas de manipulação das energias para revitalizar o corpo astral e fornecerá elementos morais educativos, necessários ao equilíbrio definitivo do ser.

"O perispírito dos encarnados é de natureza idêntica à dos fluidos espirituais, e por isso os assimila com facilidade, como a esponja se embebe de líquido. Esses fluidos têm sobre o perispírito uma acção tanto mais directa, quanto, por sua expansão e por sua irradiação, se confunde com eles" - (Allan Kardec - A Gênese, cap. XIV, item 18).


 


O PASSE


"E Deus, pelas mãos de Paulo, fazia milagres extraordinários, a ponto de levarem aos enfermos lenços e aventais do seu uso pessoal, diante dos quais as enfermidades fugiam das suas vítimas, e os Espíritos malignos se retiravam" - (Atos, cap. 19 - 11 e 12).

7.0 - O QUE É O PASSE

Desde os tempos mais antigos, a imposição das mãos é uma das fórmulas usadas pelas pessoas para auxiliar os enfermos ou afastar deles as más influências espirituais. Em muitos trechos da Bíblia, vemos Jesus e seus discípulos imporem as mãos sobre os necessitados, rogando a Deus que os curassem. Jesus fez largo uso dessa prática e disse que, se quiséssemos, poderíamos fazer o mesmo. E desde aquele tempo o homem utiliza-se desse recurso para aliviar, consolar, melhorar e até curar doenças físicas e espirituais.

Antes do advento do Espiritismo, sabia-se pouco sobre a prática desse costume. Os fenómenos de curas eram envoltos em mistérios e tidos como acontecimentos sobrenaturais.

Ao menos publicamente, ninguém se aventurou a dar explicações para o estranho poder que tinham as mãos para curar e aliviar os males físicos e espirituais. Com a chegada da Doutrina Espírita, os Espíritos superiores explicaram o porquê das coisas. Ensinaram que as mãos serviam como um instrumento para a projecção de fluidos magnetizados, doados pelo operador, e fluidos espirituais, trazidos pelos Espíritos. Segundo eles, os fluidos curativos eram absorvidos pela pessoa necessitada por meio dos centros vitais (chacras), acumuladores e distribuidores de energias, localizados no perispírito e pelo próprio corpo astral que age como uma esponja. Estavam assim explicadas, teoricamente, as curas promovidas por Jesus e pelos curadores de todos os tempos.

Entre nós, seguidores de Allan Kardec, a imposição de mãos sobre uma criatura com a intenção de aliviar sofrimentos, curá-la de algum mal, ou simplesmente fortalecê-la, ficou conhecida como "passe".

O passe é um dos métodos utilizados nos centros espíritas para o alívio ou cura dos sofrimentos das pessoas. Quando ministrado com fé, o passe é capaz de produzir verdadeiros prodígios. Têm como objectivo o reequilibro do corpo físico e espiritual.

7.1 - O PASSISTA

O passista é aquele que ministra o passe. Ser um passista espírita é uma tarefa de grande responsabilidade, pois trata-se de ajudar e abençoar as pessoas em nome de Deus. Pessoas carentes e sedentas de melhoria, procuram no centro espírita o recurso do passe como forma de alívio das pressões psicológicas e sustentação para suas forças morais e físicas.

O passista não precisa ser um santo, mas necessita esforçar-se na melhoria íntima e no aprendizado intelectual. Armado do desejo sincero de servir, quase todos os iniciantes podem trabalhar neste sagrado ministério. O passista deve procurar viver uma vida sadia, tanto física quanto moralmente. Aos poucos, os vícios terrenos têm que ceder lugar às virtudes. O uso do cigarro e da bebida devem ser evitados. Como o passista doa de si uma parte dos fluidos que vão fortalecer o lado material e espiritual do necessitado, esses fluidos precisam estar limpos de vibrações deletérias oriundas de vícios.

No aspecto mental, o passista deve cultivar bons pensamentos no seu dia-a-dia. O orgulho, o egoísmo, a maledicência, a sensualidade exagerada e a violência nas atitudes devem ser combatidos constantemente. A Espiritualidade superior associa equipes de Benfeitores aos trabalhadores que se esforçam, multiplicando-lhes a capacidade de serviço.

A fé racional e a certeza no amparo dos bons Espíritos são sentimentos que devem estar presentes no coração de todos os passistas. É fundamental no trabalho de passe, doar-se com sinceridade à tarefa sob sua responsabilidade, vendo em todo sofredor uma alma carente de amparo e orientação.

O passista não deve ter preferência por quem quer que seja. Seu auxílio deve ser igualmente distribuído a todas as criaturas. As elevadas condições morais do passista são fundamentais para que ele consiga obter um resultado satisfatório no serviço do passe.

Portanto, todos podemos ministrar passes, porém é necessário um mínimo preparo moral a fim de que a ajuda seja o mais eficaz possível. Como todas as tarefas realizadas dentro do centro espírita, esta também carece de cuidados e atenção por parte de quem se propõe a executá-la.

"Como a todos é dado apelar aos bons Espíritos, orar e querer o bem, muitas vezes basta impor as mãos sobre a dor para a acalmar; é o que pode fazer qualquer um, se trouxer a fé, o fervor, a vontade e a confiança em Deus" - (Allan Kardec - Revista Espírita, Setembro, 1865).

O que é necessário para ser um bom passista?

Allan Kardec nos instrui a respeito: "A primeira condição para isto é trabalhar em sua própria depuração (moral e ética), a fim de não alterar os fluidos salutares que está encarregado de transmitir. Esta condição não poderia ser executada sem o mais completo desinteresse material e moral. O primeiro é o mais fácil, e o segundo é o mais raro, porque o orgulho e o egoísmo são sentimentos difíceis de se extirpar, e porque várias causas contribuem para os superexcitar nos médiuns" - (Allan Kardec - Revista Espírita, Novembro, 1866).

Condições básicas para o exercício do passe espírita:

- Fé; Amor ao próximo; Disciplina; Vontade; Conhecimento; Equilíbrio psíquico; Humildade; Devotamento; Abnegação.

"Se pretendes, pois guardar as vantagens do passe, que em substância, é ato sublime de fraternidade cristã, purifica o sentimento e o raciocínio, o coração e o cérebro" - (Espírito Emmanuel, no livro Segue-me).

Factores negativos físicos, que prejudicam os resultados do passe:

- Uso do fumo e do álcool ; Desequilíbrio nervoso; Alimentos inadequados.

Factores negativos espirituais/morais:

- Mágoas, más paixões, egoísmo, orgulho, vaidade, cupidez, vida desonesta, adultério etc.

"O fluido humano está sempre mais ou menos impregnado de impurezas físicas e morais do encarnado; o dos bons Espíritos é necessariamente mais puro e, por isto mesmo, tem propriedades mais activas, que acarretam uma cura mais pronta. Mas, passando através do encarnado pode alterar-se. Daí, para todo médium curador, a necessidade de trabalhar para seu melhoramento moral" - (Allan Kardec - Revista Espírita, Setembro, 1865).

7.2 - TIPOS DE PASSES

Os passes podem ser classificados em três categorias: Passe magnético, Passe espiritual e Passe misto.

a) Passe magnético

É um tipo de passe em que a pessoa doa apenas seus fluidos, utilizando a força magnética existente no próprio corpo perispiritual. Pelo menos em tese, qualquer criatura pode ministrá-lo. Suas qualidades variam segundo a condição moral do passista, sua capacidade de doar fluidos e seu desejo sincero de amparar o próximo.

No passe magnético, geralmente se recebe assistência espiritual. Isso acontece porque os Espíritos superiores sempre ajudam aqueles que, imbuídos de boa vontade, atendem aos mais carentes. Lembramos aqui, que o socorro dos Benfeitores é independente da crença que o passista ou magnetizador possa ter em Deus ou na Espiritualidade. Os Espíritos disseram a Allan Kardec, em "O Livro dos Médiuns", questão 176 :

"...muito embora uma pessoa desejosa de fazer o bem não acredite em Deus, Deus acredita nela".

b) Passe espiritual

É uma espécie de magnetização feita pelos bons Espíritos, sem intermediários, directamente no perispírito das pessoas enfermas ou perturbadas. No passe espiritual o necessitado não recebe fluidos magnéticos de médiuns, mas outros, mais finos e puros, trazidos dos planos superiores da Vida, pelo Espírito que veio assisti-lo.

Pelo fato de não estar misturado ao fluido animalizado, o passe espiritual é bem mais limitado que as outras modalidades de passes. Com isso, pode-se compreender que os recursos oferecidos nas reuniões públicas de Espiritismo, onde participam grande quantidade de encarnados e Espíritos desencarnados, são bem maiores do que aqueles que podemos contar em nossas residências, só com a ajuda do anjo guardião.

c) Passe misto

É uma modalidade de passe onde se misturam os fluidos do passista com os da Espiritualidade. A combinação é muito maior do que no passe puramente magnético e seus efeitos bem mais salutares. Este é o tipo de passe que é aplicado nos centros espíritas, contando com a ajuda de equipes espirituais que trabalham nessa área, para ajuda dos necessitados.

Os benfeitores espirituais comparecem no momento do passe, atendendo aos encarnados e também ministrando eficiente socorro às entidades do plano espiritual. Eles agem aumentando, dirigindo e qualificando nossos fluidos.

Mas para que se possa contar sempre com a ajuda dos bons Espíritos, é necessário observar os cuidados já ditos anteriormente sobre a depuração íntima de cada um dos que estão imbuídos do desejo de fazer o bem.

"...Para curar pela acção fluídica, os fluidos mais depurados são os mais saudáveis; desde que esses fluidos benéficos são dos Espíritos superiores, então é o concurso deles que é preciso obter. Por isto a prece e a evocação são necessárias. Mas para orar e, sobretudo, orar com fervor, é preciso fé. Para que a prece seja escutada é preciso que seja feita com humildade e dilatada por um real sentimento de benevolência e de caridade. Ora, não há verdadeira caridade sem devotamento, nem devotamento sem desinteresse" - (Allan Kardec - Revista Espírita, Janeiro, 1864).

7.3 - O PASSE NO CENTRO ESPÍRITA

O passe destina-se ao tratamento e profilaxia de enfermidades físicas e espirituais junto aos necessitados que procuram o centro espírita. A equipe de passistas deve estar alinhada no mesmo pensamento de ajudar essas pessoas carentes de amparo.

O serviço de aplicação do passe requer critério, discernimento, responsabilidade e conhecimento doutrinário. É um complemento aos recursos de auto melhoramento e de reeducação espiritual utilizados normalmente.

a) A Técnica do Passe Espírita

Há uma certa discussão no meio espírita sobre como deveria ser aplicado o passe. Alguns defendem a tese de que os passes deveriam ser ministrados movimentando-se as mãos ao redor do corpo do indivíduo, de modo que as energias espirituais pudessem melhor atingir seus objectivos de cura. Outros, acham que o ato de apenas impor as mãos sobre a cabeça de quem vai receber o passe já é suficiente.
André Luiz nos informa em "Conduta Espírita" que o passe dispensa qualquer recurso espectacular.

José Herculano Pires, no livro "Mediunidade", diz que o passe é tão simples que não se pode fazer nada mais do que dá-lo.

Allan Kardec, referindo-se ao assunto na Revista Espírita, número de Setembro de 1865, diz aos médiuns que: "Apenas sua ignorância lhes faz crer na influência desta ou daquela forma. Às vezes, mesmo, a isto misturam práticas evidentemente supersticiosas, às quais se deve emprestar o valor que merecem".

Oficialmente, a Doutrina Espírita não prescreve uma metodologia para o passe. Cada grupo é livre para se posicionar de um modo ou de outro, desde que sem exageros.

A técnica deve ser o mais simples possível, evitando-se fórmulas, exageros e gesticulação em torno do paciente. Cada grupo deve ter o bom senso de trabalhar da forma que achar mais conveniente desde que dentro de uma fundamentação doutrinária lógica.

O que é preciso levar em conta é que nenhuma das duas formas de aplicar o passe surtirá efeito se o médium não tiver dentro de si a vontade de ajudar e condições morais salutares para concretizá-lo. Mesmo que se aplique a melhor metodologia, não se conseguirão bons resultados se o passista for pessoa de má índole.

b) Quando o Passe deve ser aplicado?

A variação das condições fluídicas perispirituais de qualquer criatura viva produz desequilíbrios orgânicos e psicológicos, que podem dar origem a enfermidades. Alterações psicológicas ou traumas orgânicos podem provocar mudanças fluídicas na camada exterior do perispírito, agravando doenças ou iniciando estados mórbidos. Daí, a importância da terapia energética dos passes como tratamento, mas principalmente como profilaxia das enfermidades. Por isso o passe deve ser aplicado regularmente, desde que seja esclarecido que o procedimento não é obrigatório, para desvinculá-lo de ritual ou dogma.



 

A OBSECCÃO
 

"E quando chegaram para junto da multidão, aproximou-se dele um homem, que se ajoelhou e disse: Senhor, compadece-te de meu filho, porque é lunático e sofre muito; pois muitas vezes cai no fogo e outras muitas na água. Apresentei-o a teus discípulos, mas eles não puderam curá-lo.

Jesus exclamou: Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando vos sofrerei? Trazei-me aqui o menino.

E Jesus repreendeu o demónio, e este saiu do menino; e desde aquela hora, ficou o menino curado" - (Mateus, cap. 17 - 14 a 18).

8.0 - O QUE É A OBSESSÃO

A obsessão é uma espécie de enfermidade de ordem psíquica e emocional, que consiste num constrangimento das actividades de um Espírito pela acção de um outro.

A influência maléfica de um Espírito obsessor pode afectar a vida mental de uma pessoa, alterando suas emoções e raciocínios, chegando até mesmo a atingir seu corpo físico. A influência espiritual só é qualificada como obsessão quando se observa uma perturbação constante. Se a influência verificada é apenas esporádica, ela não se caracterizará como uma obsessão.

Somente os Espíritos maus e imperfeitos provocam obsessões, interferindo na vontade do indivíduo, fazendo com que ele tenha acções contrárias ao seu desejo natural.

A obsessão só se instala na mente do paciente quando o obsessor encontra fraquezas morais que possam ser exploradas. São pontos fracos que, naturalmente, todos nós temos, pela imperfeição que nos caracteriza. Deste modo, conclui-se que todos estamos sujeitos à obsessão.

As doenças do corpo carnal só se manifestam quando existem fragilidades estruturais ou carências no organismo físico. Na área psíquica acontece coisa semelhante. Os indivíduos enfraquecidos moralmente, com falhas de carácter, vícios etc, estarão mais sujeitos à obsessão.

O Espírito obsessor, conhecendo as fraquezas morais do enfermo, vai aos poucos obtendo acesso à sua área mental, chegando em alguns casos a dominá-lo. Se a obsessão se intensificar, e não for tratada espiritualmente em tempo hábil, ocorrerá um aumento de afinidade fluídica entre obsessor e obsedado, o que poderá acarretar no agravamento da enfermidade.

As obsessões no período de infância são raras. Geralmente, as influências iniciam-se entre os sete e dez anos de idade, quando a personalidade da criança começa a desabrochar. Depois desse período já é possível que ocorram influências obsessivas mais preocupantes.

Alguns adeptos do Espiritismo costumam dizer que todas as pessoas são obsediadas, mas isso não é verdade. Todos nós recebemos influências espirituais boas e ruins que, de acordo com nosso livre arbítrio, podem nos encaminhar para o Bem ou para o Mal.

A obsessão é caracterizada por uma enfermidade com sinais bastante perceptíveis. Só é obsediado, no real significado da palavra, aquele que está psicologicamente enfermo por causa de influências espirituais negativas, ou se fez prisioneiro de pensamentos mórbidos existentes em sua intimidade.

Abaixo, citaremos alguns ensinamentos de Allan Kardec sobre o assunto, encontrados na Revista Espírita, ano de 1858, mês de Outubro:

- Os Espíritos não são iguais nem em poder, nem em conhecimento, nem em sabedoria. Como não passam de almas humanas desembaraçadas de seu invólucro corporal, ainda apresentam uma variedade maior que a que encontramos entre os homens na Terra. Há, pois, Espíritos muito superiores, como os há muito inferiores; muito bons e muito maus, muito sábios e muito ignorantes, há os levianos, malévolos, mentirosos, astutos, hipócritas, espirituosos, trocistas etc.

- Estamos incessantemente cercados por uma nuvem de Espíritos que, nem por serem invisíveis aos nossos olhos materiais, deixam de estar no espaço, em redor de nós, ao nosso lado, espiando os nossos actos, lendo os nossos pensamentos, uns para nos fazer o bem, outros para nos fazer o mal, segundo os Espíritos bons ou maus.

- Pela inferioridade física e moral de nosso globo, na hierarquia dos mundos, os Espíritos inferiores aqui são mais numerosos que os superiores.

- Entre os que nos cercam, há os que se ligam a nós, que agem mais particularmente sobre o nosso pensamento, aconselhando-nos, e cujo impulso seguimos sem nos apercebermos; felizes se escutarmos a voz dos bons.

- Liga-se os Espíritos inferiores àqueles que os ouvem, junto aos quais têm acesso e aos quais se agarram. Se conseguirem estabelecer domínio sobre alguém, identificam-se com o seu próprio Espírito, fascinam-no, obsediam-no, subjugam-no e o conduzem como se fosse uma criança.

- A obsessão jamais se dá senão por Espíritos inferiores. Os bons Espíritos não produzem nenhum constrangimento; aconselham, combatem a influência dos maus e se afastam, desde que não sejam ouvidos.

- O grau de constrangimento e a natureza dos efeitos que produz marcam a diferença entre a obsessão, a subjugação e a fascinação.

- Por sua vontade pode sempre o homem sacudir o jugo dos Espíritos imperfeitos, porque em virtude de seu livre arbítrio, há escolha entre o bem e o mal. Se o constrangimento chegou a ponto de paralisar a vontade e se a fascinação é tão grande que oblitera a razão, então a vontade de uma terceira pessoa pode substituí-la.

8.1 - CAUSAS DA OBSESSÃO

"Reconcilia-te sem demora com teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para que não suceda que ele te entregue ao juiz, e que o juiz te entregue ao seu ministro, e sejas mandado para a cadeia. Em verdade te digo que não sairás de lá, enquanto não pagares o último ceitil" - (Mateus, cap. 5, 25, 26).
Basicamente, a obsessão tem quatro causas: as morais, as relativas ao passado, as contaminações e as anímicas.

a) As causas morais

As obsessões de causas morais são aquelas provocadas pela má conduta do indivíduo na vida quotidiana. Ao andarmos de mal com a vida e com as pessoas, estaremos sintonizando nossos pensamentos com os Espíritos inferiores e atraindo-os para perto de nós. Desse intercâmbio de influências poderá nascer uma obsessão.

Vícios mundanos, como o cigarro, a bebida em excesso, o cultivo do orgulho, do egoísmo, da maledicência, da violência, da avareza, da sensualidade doentia e da luxúria poderão ligar-nos a entidades espirituais infelizes que, mesmo desencarnadas, não se desapegaram dos prazeres materiais. Esses Espíritos ligam-se aos "vivos" para satisfazerem seus desejos primitivos, tratando as pessoas como se fossem a extensão de seus interesses no plano material.

b) As causas relativas ao passado

As obsessões relativas ao passado são aquelas provenientes do processo de evolução a que todos os Espíritos estão sujeitos. Nas suas experiências reencarnatórias, por ignorância ou livre arbítrio, uma entidade pode cometer faltas graves em prejuízo do próximo. Se a desavença entre eles gerar ódio, o desentendimento poderá perdurar por encarnações a fio, despontando nos desafectos, brigas, desejos de vingança e perseguição. Casos assim podem dar origem a processos obsessivos tenazes.

Desencarnados, malfeitor e vítima continuam a alimentar os sentimentos de rancor de um para com o outro. Se um encarna, o outro pode persegui-lo, atormentando-o e vice-versa.

c) As contaminações

As contaminações obsessivas geralmente acontecem quando uma pessoa frequenta ou simplesmente passa por ambientes onde predomina a influência de Espíritos inferiores. Seitas estranhas, onde o ritualismo e o misticismo se fazem presentes; terreiros primitivos, onde se pratica a baixa magia; benzedeiras e mesmo centros espíritas mal orientados são focos onde podem aparecer contaminações obsessivas. Espíritos atrasados, ligados ao lugar onde a pessoa frequentou ou visitou, envolvem-se na sua vida mental, prejudicando-a. Ocorrem também situações em que as irradiações magnéticas vindas desses ambientes, causam-lhe transtornos fluídicos. A gravidade dos casos estará na razão directa da sintonia que os Espíritos inferiores estabelecerem com os pacientes.

d) Causa anímica ou auto-obsessão

As obsessões anímicas são causadas por uma influência mórbida residente na mente do próprio paciente. Por causa de vícios de comportamento, ele cultiva de forma doentia pensamentos que causam desequilíbrio em sua área emocional.

Muitas tendências auto-obsessivas são provenientes de experiências infelizes ligadas às vidas passadas do enfermo. Angústia, depressão, mania de perseguição ou carências inexplicadas podem fazer parte de processos auto obsessivos.

O auto obsediado costuma fechar-se em seus pensamentos negativos e não encontra forças para sair dessa situação constrangedora. Esse posicionamento mental atrai Espíritos doentios que, sintonizados na mesma faixa psíquica, agravam sua doença espiritual.

A fluidoterapia, largamente usada nas casas espíritas, pode ser utilizada como auxiliar no tratamento das auto obsessões. A melhor terapia, no entanto, é a reeducação através da conscientização dos seus males e consequente mudança de postura.

8.2 - CARACTERÍSTICAS DA OBSESSÃO

A Obsessão apresenta características que pode situá-la no grau de gravidade que lhe é própria. Há três graus de gravidade: Obsessão Simples, Fascinação e Subjugação.

a) Obsessão Simples

É um tipo de influência que, de forma subtil, constrange a pessoa a praticar actos ou ter pensamentos diferentes do que geralmente possui. O obsedado, às vezes, nem percebe o que lhe está ocorrendo. Em outras, têm consciência da influência daninha, mas não consegue se livrar dela. Este tipo de obsessão é muito comum e pode agravar-se, dependendo da natureza do Espírito atrasado envolvido e das disposições morais do paciente.

b) Fascinação

Allan Kardec disse, em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", que a fascinação é o pior tipo de obsessão. Trata-se de uma ilusão provocada por um Espírito hipócrita que domina a mente do paciente, distorcendo seu senso de realidade. O Espírito obsessor planeja muito bem seu intento destrutivo e busca envolver o indivíduo em artimanhas mentais bem preparadas.

As portas de entrada para a fascinação, como sempre, são as falhas morais. É no orgulho de sua vítima que o Espírito hipócrita encontra o alimento para fascinar-lhe a personalidade.

Para conseguir seu domínio, a entidade maldosa exalta a vaidade do obsedado, fazendo-o sentir-se infalível e auto confiante. A ilusão é tamanha que o fascinado adquire uma grandiosa cegueira, o que não lhe permite perceber o ridículo de certas acções que pratica.

Doutrinas absurdas, ideias contraditórias, teorias impraticáveis podem ser oriundas da acção de médiuns ostensivos ou não, que estão sob o império da fascinação. A pessoa fascinada dificilmente aceita sua condição de enferma, o que dificulta a cura do processo obsessivo. Geralmente se aborrece com as críticas e com as pessoas que não participam de sua admiração e afasta-se de quem quer que possa abrir-lhe os olhos.

Do simples e ignorante, ao intelectual e letrado, todos podem ser vítimas da fascinação.

c) Subjugação

A subjugação pode ser moral ou corpórea. No caso moral, o Espírito obsessor adquire forte domínio sobre o psiquismo do indivíduo, levando-o a tomar decisões contrárias ao seu desejo. Na fascinação há uma ilusão. Na subjugação, o paciente tem consciência do que lhe acontece.

Na subjugação corpórea, além de exercer o domínio psíquico, o obsessor atinge a parte fluídica perispiritual do doente. Domina seu corpo físico e, às vezes, numa crise semelhante à epilepsia, atira-o ao chão. Como o obsedado fica quase sempre sem as energias necessárias para dominar ou repelir o mau Espírito, carece da intervenção de uma terceira pessoa com ascendência moral sobre ele, para auxiliá-lo a sair da difícil situação.

8.3 - SITUAÇÕES OBSESSIVAS

As obsessões, de um modo geral, não apresentam gravidade. São fáceis de serem tratadas pela metodologia espírita. Só em um pequeno número de casos há factores que facilitam a degeneração do processo, culminando na fascinação ou subjugação. Em quase todos os processos obsessivos existem duas partes envolvidas. Só na auto obsessão, o indivíduo atormenta-se a si mesmo. Assim, podemos ter os seguintes casos de situação obsessiva:

a. De desencarnado para encarnado.
b. De encarnado para desencarnado.
c. De desencarnado para desencarnado.
d. De encarnado para encarnado.
e. Obsessão recíproca
f. Auto obsessão.

8.4 - O TRATAMENTO DA OBSESSÃO

"Quando o Espírito imundo tem saído do homem, anda por lugares secos, buscando repouso; e, não o achando, diz: Tornarei para minha casa donde saí.

E, chegando, acha-a varrida e adornada.

Então vai, e leva consigo outros sete Espíritos piores do que ele, e, entrando, habitam ali; e o último estado desse homem é pior do que o primeiro" - (Lucas, cap. 11, 24 - 26).

A obsessão, como todas as enfermidades, pode ser curada através de tratamentos especializados. Para se tratar essa enfermidade espiritual, são necessários alguns procedimentos terapêuticos:

a) Conscientização

Deve-se conscientizar o paciente da situação de enfermo em que se encontra, para que, com sua força de vontade, possa ajudar-se na cura. Nenhum tratamento surtirá efeito se não contar com a vontade de quem precisa dele.

b) Reeducação

É preciso orientar o assistido sobre a necessidade de melhoria de sua conduta na vida diária. Que se esforce para evitar os vícios mais grosseiros e que procure controlar suas más tendências. Sem essa mudança de postura e de visão, dificilmente ficará livre das más influências, que predispõem aos processos obsessivos.

Importante lembrar que os bons exemplos vindos de quem ministra a instrução é uma das grandes armas na luta contra a obsessão.

c) Evangelização

Enfatizar sempre ao enfermo a necessidade de observar os ensinos morais do Evangelho de Jesus, roteiro seguro para libertação dos males do Espírito. Orientar a necessidade da frequência regular à casa espírita, até que sua enfermidade seja curada ou esteja sob controle. Estimular o hábito da prece, o mais poderoso auxílio no tratamento de obsedados.

d) Intercâmbio espiritual

Orientar moralmente o Espírito obsessor nas reuniões mediúnicas, evocando-o em médiuns preparados para esta tarefa, aconselhando-o a seguir outro caminho que não o da vingança, da mentira ou dos prazeres inferiores. Este trabalho de esclarecimento deve ser feito por pessoas com experiência e conhecimento da ciência espírita, a fim de atingir os resultados esperados.

e) Reequilibro familiar

Sempre que possível, a equipe responsável pelo tratamento do enfermo deverá orientar moralmente sua família que, em muitos casos, está envolvida directa ou indirectamente na problemática obsessiva. Além disso, o apoio e a compreensão dos familiares no processo de cura desta grave enfermidade espiritual é fundamental.

f) Tratamento médico

Nos casos em que o processo obsessivo apresentar-se com grave comprometimento psíquico, o paciente deverá receber assistência de um profissional habilitado, que lhe despenderá os cuidados necessários.

É importante enfatizar que não podemos interferir nas prescrições médicas, tampouco suspender medicamentos por conta própria.

g) Ascendência moral

Para se conseguir bons resultados nas tarefas de desobsessão, é preciso que a equipe de atendimento tenha ascendência moral sobre o Espírito obsessor e isso só é possível cultivando uma vida moral sadia. O falar sem exemplificação transforma-se em letra morta. Jesus expulsava os maus Espíritos apenas com o uso de sua autoridade moral. Disse que poderíamos fazer o mesmo.

"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que faz para dominar suas más inclinações" - (Allan Kardec - Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 4).


 
 


CONCLUSÃO


Nestas páginas, você entrou em contacto com os princípios básicos da Doutrina Espírita. Cada capítulo foi desenvolvido de forma a proporcionar um fácil entendimento do que na verdade é esse tesouro que foi deixado ao mundo pelas mãos do mestre Allan Kardec, como instrumento de iluminação do Espírito.

De posse destes conhecimentos, você poderá adentrar mais facilmente ao estudo aprofundado da ciência espírita, tendo sempre em mente que jamais poderemos dizer que já estamos prontos e que tudo sabemos.

Estudar a Doutrina Espírita é aprender sempre. A inesgotável fonte de saber que encontramos nos escritos de Allan Kardec, nos faz vislumbrar sempre inúmeras possibilidades de x crescimento, através do esclarecimento, que nos leva inexoravelmente a melhores situações evolutivas.

Os conceitos aqui absorvidos servirão de base para o início de um amplo e sério estudo do Espiritismo, por parte daqueles que compreenderam e assimilaram, neste curto convívio, o verdadeiro valor desta abençoada Doutrina, lembrando sempre que o aprendizado é infinito.

Por fim, esperamos que este seja apenas o começo de uma bela caminhada em direcção à Verdade.

Os autores.

Resumo da Doutrina dos Espíritos

"Os seres que se manifestam designam-se a si mesmos, pelo nome de Espíritos ou Génios, e dizem, alguns pelo menos, que viveram como homens na Terra. Constituem o mundo espiritual, como nós constituímos, durante a nossa vida, o mundo corporal’’.

Resumiremos em poucas palavras os pontos principais da doutrina que nos transmitiram, a fim de mais facilmente responder certas objecções:

"Deus é eterno, imutável, imaterial, único, todo poderoso, soberanamente justo e bom.

Criou o Universo, que compreende todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.

Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal e os seres imateriais o mundo invisível ou espírita, ou seja, dos Espíritos.

O mundo espírita é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistente e sobrevivente a tudo.

O mundo corporal é secundário; poderia deixar de existir ou nunca ter existido, sem alterar a essência do mundo espírita.

Os Espíritos revestem temporariamente um invólucro material perecível e sua destruição pela morte os devolve à liberdade.

Entre as diferentes espécies de seres corporais, Deus escolheu a espécie humana para a encarnação dos Espíritos que chegaram a um certo grau de desenvolvimento, o que lhe dá uma superioridade moral e intelectual ante as demais. A alma é um Espírito encarnado, e o corpo apenas o seu invólucro.
Há no homem três coisas:

1 - O corpo ou ser material, semelhante ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital;

2 - A alma ou ser imaterial, Espírito encarnado no corpo;

3 - O laço que une a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito.

O homem tem assim duas naturezas: o corpo participa da natureza dos animais, dos quais possui os instintos; pela alma participa da natureza dos Espíritos. O laço ou perispírito, que une corpo e Espírito, é uma espécie de invólucro semimaterial. A morte é a destruição do invólucro mais grosseiro.

O Espírito conserva o segundo, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para nós em seu estado normal, mas que ele pode tornar visível e mesmo tangível, como se verifica nos fenómenos de aparição.

O Espírito não é, portanto, um ser abstracto, indefinido, que só o pensamento pode conceber. É um ser real, definido, que em certos casos pode ser apreendido pelos nossos sentidos da vista, audição e do tacto.

Os Espíritos pertencem a diferentes classes, não sendo iguais nem em poder nem em inteligência, saber ou moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos Superiores que se distinguem pela perfeição, pelos conhecimentos e pela proximidade de Deus, pela pureza dos sentimentos e do amor ao bem: são os anjos ou Espíritos puros. As demais classes se distanciam mais e mais desta perfeição. Os das classes inferiores são inclinados às nossas paixões: o ódio, a inveja, o ciúme, o orgulho, e se comprazem no mal. Nesse número há os que não são nem muito bons, nem muito maus; antes, perturbadores e intrigantes do que maus; a malícia e a inconsequência parecem ser suas características: são os Espíritos estouvados ou levianos.

Os Espíritos não pertencem eternamente à mesma ordem. Todos melhoram, passando pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esse melhoramento se verifica pela encarnação, que a uns é imposta como expiação, a outros como missão.

A vida material é uma prova a que devem submeter-se repetidas vezes até atingirem a perfeição absoluta; é uma espécie de peneira ou depurador de que eles saem mais ou menos purificados.

Deixando o corpo, a alma volta ao mundo dos Espíritos, de onde havia saído para reiniciar uma nova existência material, após um lapso de tempo mais ou menos longo, durante o qual permanecerá no estado de Espírito errante.

Devendo o Espírito passar por muitas encarnações, conclui-se que todos nós tivemos muitas existências e que teremos outras, mais ou menos aperfeiçoadas, seja na Terra ou em outros mundos.

A encarnação dos Espíritos ocorre sempre na espécie humana. Seria um erro acreditar que a alma ou Espírito pudesse encarnar num corpo de animal.

As diferentes existências corporais do Espírito são sempre progressivas e jamais retrógradas, mas a rapidez do progresso depende dos esforços que fazemos para chegar à perfeição.

As qualidades da alma são as do Espírito encarnado. Assim, o homem de bem é a encarnação de um bom Espírito e o homem perverso é a de um Espírito impuro.

A alma tinha a sua individualidade antes da encarnação e a conserva após a separação do corpo.

No seu regresso ao mundo dos Espíritos a alma reencontra todos os que conheceu na Terra e todas as suas existências anteriores se delineiam na sua memória, com a recordação de todo o bem e todo o mal que tenha feito.

O Espírito encarnado está sob a influência da matéria. O homem que supera essa influência, pela elevação e purificação de sua alma, aproxima-se dos bons Espíritos com os quais estará um dia. Aquele que se deixa dominar pelas más paixões e põe todas as suas alegrias na satisfação dos apetites grosseiros, aproxima-se dos Espíritos impuros, dando preponderância à natureza animal.
Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do Universo.

Os Espíritos desencarnados ou errantes não ocupam nenhuma região determinada ou circunscrita; estão por toda parte, no espaço e ao nosso lado, vendo-nos e acotovelando-nos sem cessar. É toda uma população invisível que se agita ao nosso redor.

Os Espíritos exercem sobre o mundo moral e mesmo o mundo físico uma acção incessante. Agem sobre a matéria e sobre o pensamento e constituem uma das forças da Natureza, causa eficiente de uma multidão de fenómenos até agora inexplicados ou mal explicados, que não encontram solução racional.

As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos convidam ao bem, nos sustentam nas provas da vida e nos ajudam a suportá-las com coragem e resignação; os maus nos convidam ao mal: é para eles um prazer ver-nos sucumbir e cair no seu estado.

As comunicações ocultas verificam-se pela influência boa ou má que elas exercem sobre nós sem o sabermos, cabendo ao nosso julgamento discernir as más e boas inspirações. As comunicações ostensivas realizam-se por meio da escrita, da palavra ou de outras manifestações materiais, na maioria das vezes através dos médiuns que lhes servem de instrumentos.

Os Espíritos se manifestam espontaneamente ou pela evocação. Podemos evocar todos os Espíritos: os que animaram homens obscuros e os dos personagens mais ilustres, qualquer que seja a época que tenham vivido; os de nossos parentes, de nossos amigos ou inimigos e deles obter por comunicações escritas ou verbais, conselhos, informações sobre a situação em que se acham no espaço, seus pensamentos a nosso respeito, assim como as revelações que lhes sejam permitidas fazer-nos.

Os Espíritos são atraídos, na razão de sua simpatia, pela natureza moral do meio que os evoca. Os Espíritos superiores gostam das reuniões sérias, em que predominem o amor do bem e o desejo sincero de instrução e de melhoria. Sua presença afasta os Espíritos inferiores que encontram, ao contrário, livre acesso e podem agir com inteira liberdade entre as pessoas frívolas ou guiadas apenas pela curiosidade e por toda parte onde encontre maus instintos. Longe de obtermos bons conselhos e informações úteis desses Espíritos, nada mais devemos esperar do que futilidades, mentiras, brincadeiras de mau gosto ou mistificações, pois frequentemente se servem de nomes veneráveis para melhor nos induzir ao erro.

Distinguir os bons e os maus Espíritos é extremamente fácil. A linguagem dos Espíritos superiores é constantemente digna, nobre, cheia da mais alta moralidade, livre de qualquer paixão inferior, seus conselhos revelam a mais pura sabedoria e têm sempre por alvo o nosso progresso e o bem da humanidade. A dos Espíritos inferiores, ao contrário, é inconsequente, quase banal e mesmo grosseira; se dizem às vezes coisas boas e verdadeiras, dizem com mais frequência falsidades e absurdos, por malícia ou por ignorância; zombam da credulidade e divertem-se à custa dos que os interrogam, lisonjeando-lhes a vaidade e embalando-lhes os desejos de falsas esperanças. Em resumo, as comunicações sérias, na perfeita acepção do termo, não se verificam senão nos centros sérios, cujos membros estão unidos por uma íntima comunhão de pensamentos dirigidos para o bem.

A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: "Fazer aos outros o que desejamos que os outros nos façam", ou seja, fazer o bem e não o mal. O homem encontra nesse princípio a regra universal de conduta, mesmo para as menores acções.

Eles nos ensinam que o egoísmo, o orgulho, a sensualidade são paixões que nos aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria: que o homem que, desde este mundo, se liberta da matéria pelo desprezo das futilidades mundanas e o cultivo do amor ao próximo, aproxima-se da natureza espiritual; e cada um de nós deve tornar-se útil segundo as faculdades e os meios que Deus nos colocou nas mãos para nos provar; que o forte e o poderoso devem apoio ao fraco, porque aquele que abusa da sua força e do seu poder para oprimir o seu semelhante viola a lei de Deus. Eles ensinam, enfim, que no mundo dos Espíritos nada pode estar escondido: o hipócrita será desmascarado e todas as suas torpezas reveladas; a presença inevitável e incessante daqueles que prejudicamos é um dos castigos que nos estão reservados; ao estado de inferioridade e de superioridade dos Espíritos correspondem penas e alegrias que nos são desconhecidas na Terra.
Mas eles nos ensinam também que não há faltas irremissíveis, que não possam ser apagadas pela expiação.

O homem encontra o meio necessário nas diferentes existências, que lhe permite avançar, segundo o seu desejo e os seus esforços, na vida do progresso, em direcção à perfeição que é o seu objectivo final" - (Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, na Introdução ao Estudo da Doutrina Espírita, item VI).
Nota sobre a vida e morte de Allan Kardec

"É sob o golpe da dor profunda causada pela partida prematura do venerável fundador da Doutrina Espírita que iniciamos uma tarefa, simples e fácil para as suas mãos sábias e experimentadas, mas cujo peso e gravidade nos acabrunhariam, se não contássemos com o concurso eficaz dos bons Espíritos e com a indulgência dos nossos leitores.

Quem, entre nós, poderia, sem ser tachado de presunçoso, gabar-se de possuir o espírito de método e de organização com que se iluminam todos os trabalhos do mestre? Só a sua poderosa inteligência poderia concentrar tantos materiais diversos, triturá-los, transformá-los, para a seguir os espalhar como um orvalho benfazejo sobre as almas desejosas de conhecer e de amar!

Incisivo, conciso, profundo, ele sabia agradar e fazer-se compreender, numa linguagem ao mesmo tempo simples e elevada, tão afastada do estilo familiar quanto das obscuridades da Metafísica.

Multiplicando-se incessantemente, até aqui ele havia atendido a tudo. Entretanto, o diário crescimento de suas relações e o incessante desenvolvimento do Espiritismo o fizeram sentir a necessidade de contar com alguns auxiliares inteligentes, e ele preparava, simultaneamente, a organização nova da Doutrina e de seus trabalhos, quando nos deixou para ir a um mundo melhor, colher o prémio da missão cumprida e reunir os elementos para uma nova obra de devotamento e de sacrifício.

Ele era só!... Nós nos chamaremos legião, e, por mais fracos e inexperientes que sejamos, temos a íntima convicção de que nos manteremos à altura da situação se, partindo dos princípios estabelecidos e de uma evidência incontestável, nos dedicarmos a executar, tanto quanto nos seja possível e conforme as necessidades do momento, os projectos futuros que o próprio Sr. Allan Kardec se propunha a realizar.

Enquanto seguirmos a sua via e todas as boas vontades se unirem num esforço comum, para o progresso e a regeneração intelectual e moral da Humanidade, o Espírito do grande filósofo estará connosco e nos ajudará com sua poderosa influência. Possa ele suprir a nossa insuficiência e possamos tornar-nos dignos de seu concurso, consagrando-nos à obra com o mesmo devotamento e sinceridade, se não com tanta ciência e inteligência!

Em sua bandeira ele havia inscrito estas palavras: trabalho, solidariedade, tolerância. Como ele, sejamos infatigáveis; conforme seus desejos, sejamos tolerantes e solidários e não temamos seguir o seu exemplo, pondo vinte vezes sobre a mesa os princípios ainda em discussão. Apelamos ao concurso e às luzes de todos. Tentaremos avançar com mais certeza do que velocidade e nossos esforços não serão infrutíferos se, como estamos persuadidos - e de que seremos os primeiros a dar exemplo - cada um tratar de cumprir o seu dever, pondo de lado qualquer questão pessoal, a fim de contribuir para o bem geral.

Não poderíamos entrar sob melhores auspícios na nova fase que se abre para o Espiritismo, do que dando a conhecer aos nossos leitores, em rápido esboço, o que foi toda a sua vida, o homem íntegro e honrado, o sábio inteligente e fecundo, cuja memória se transmitirá aos séculos futuros, cercada da auréola dos benfeitores da Humanidade.

Nascido em Lyon, a 3 de outubro de 1804, de uma antiga família que se distinguia na magistratura e na tribuna jurídica, o Sr. Allan Kardec (Léon Hippolithe Denizart Rivail) não seguiu esta carreira. Desde a primeira juventude sentia-se atraído para o estudo das Ciências e da Filosofia.

Educado na Escola de Pestalozzi, em Iverdun, Suíça, tornou-se um dos mais eminentes discípulos do célebre professor e um dos propagadores zelosos de seu sistema de educação, que exerceu uma grande influência sobre a reforma dos estudos na Alemanha e na França.

Dotado de uma inteligência notável e atraído para o ensino por seu carácter e suas aptidões especiais, desde a idade de quatorze anos ensinava o que sabia aos seus discípulos que tinham aprendido menos que ele. Nesta escola se desenvolveram as ideias que, mais tarde, deveriam colocá-lo na classe dos homens avançados e dos livre pensadores.

Nascido na religião católica, mas educado em país protestante, os actos de intolerância que a propósito teve de sofrer, desde cedo o fizeram conceber a ideia de uma reforma religiosa, na qual trabalhou em silêncio durante longos anos, com o pensamento de chegar a uma unificação de crenças; mas lhe faltava o elemento indispensável à solução deste grande problema.

Mais tarde o Espiritismo lhe veio fornecer esse elemento e imprimir uma direcção especial aos seus trabalhos.

Terminados os estudos, voltou para a França. Dominando a fundo a língua alemã, traduziu para a Alemanha diversas obras de educação e de moral e, o que é característico, as obras de Fénelon, que o haviam seduzido particularmente.

Era membro de várias sociedades científicas, entre outras, da Academia Real de Arras que, em seu concurso de 1831, o laureou por uma memória notável sobre esta questão: "Qual o sistema de estudos mais em harmonia com as necessidades da época?"

De 1835 a 1840, em seu domicílio, à rua de Sèvres, fundou cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia etc; empreendimento digno de elogios em todos os tempos, mas sobretudo numa época em que um pequeníssimo número de inteligências se aventurava a entrar por esse caminho.
Constantemente preocupado em tornar atraentes e interessantes os sistemas de educação, inventou, ao mesmo tempo, um método engenhoso para ensinar a contar e um quadro mnemónico da História da França, tendo por objectivo fixar na memória as datas dos acontecimentos notáveis e das grandes descobertas que ilustraram cada reinado.

Entre as suas numerosas obras de educação, citaremos as seguintes: Plano proposto para o melhoramento da instrução pública (1828); Curso prático e teórico de Aritmética, segundo o método de Pestalozzi, para uso dos professores e mães de família (1829); Gramática Francesa Clássica (1831); Manual dos exames para o título de capacidade; Soluções raciocinadas das questões e problemas de Aritmética e de Geometria (1846); Catecismo gramatical da Língua Francesa (1848); Programa dos cursos de Química, Física, Astronomia, Fisiologia, que professava no Liceu Polimático; Ditados normais dos exames da Prefeitura e da Sorbonne, acompanhados de Ditados especiais sobre as dificuldades ortográficas (1849), obra muito estimada na época de seu aparecimento e da qual ainda recentemente ele tirava novas edições.

Antes que o Espiritismo viesse popularizar o pseudónimo Allan Kardec, tinha ele, como se vê, sabido ilustrar-se por trabalhos de natureza completamente diversa, mas tendo como objectivo esclarecer as massas e ligá-las cada vez mais à família e ao país.

Em 1850, desde que se tratou das manifestações dos Espíritos, o Sr. Allan Kardec entregou-se a observações perseverantes sobre esses fenómenos e empenhou-se principalmente em lhes deduzir as consequências filosóficas. Entreviu desde logo o princípio de novas leis naturais: as que regem as relações entre o mundo visível e o mundo invisível; reconheceu na acção deste último uma das forças da Natureza, cujo conhecimento deveria lançar luz sobre uma porção de problemas reputados insolúveis, e compreendeu o seu alcance do ponto de vista religioso.

Suas principais obras sobre esta matéria são: O Livro dos Espíritos, para a parte filosófica, e cuja primeira edição apareceu a 18 de abril de 1857; O Livro dos Médiuns, para a parte experimental e científica (janeiro de 1861); O Evangelho Segundo o Espiritismo, para a parte moral (abril de 1864); O Céu e o Inferno, ou a justiça de Deus segundo o Espiritismo (agosto de 1865); A Gênese, Os Milagres e as Predições (janeiro de 1868); a Revista Espírita, jornal de estudos psicológicos, colecção mensal começada a 1º de janeiro de 1858.

Fundou em Paris, a 1º de abril de 1858, a primeira Sociedade Espírita regularmente constituída, sob o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, cujo fim exclusivo é o estudo de tudo o que possa contribuir para o progresso desta nova Ciência. A justo título o Sr. Allan Kardec se defende de haver algo escrito sob a influência de ideias preconcebidas ou sistemáticas: homem de um carácter frio e calmo, observou os fatos e de suas observações deduziu as leis que os regem; foi o primeiro a elaborar a sua teoria e a dispô-los num corpo metódico e regular.

Demonstrando que os fatos falsamente qualificados de sobrenaturais estão submetidos a leis, fá-los entrar na ordem dos fenómenos da Natureza e assim destrói o último refúgio do maravilhoso, um dos elementos da superstição.

Durante os primeiros anos em que se cogitava dos fenómenos espíritas, essas manifestações eram antes objecto de curiosidade do que assunto para sérias meditações. O Livro dos Espíritos colocou o assunto sob um aspecto completamente novo. Abandonaram-se então as mesas girantes, que apenas haviam sido um prelúdio, voltando-se o interesse para um corpo de doutrina que abarcava todas as questões ligadas à Humanidade. Do aparecimento de O Livro dos Espíritos data a verdadeira fundação do Espiritismo, que até então se constituía apenas de elementos esparsos, sem coordenação, e cujo alcance não havia sido compreendido suficientemente; também a partir desse momento a doutrina chamou a atenção de homens sérios e tomou rápido desenvolvimento. Em poucos anos essas ideias encontraram numerosos aderentes em todas as camadas da sociedade e em todos os países. Este sucesso sem precedentes se deve sem dúvida às simpatias que essas ideias encontraram, mas é devido em grande parte à clareza, que é uma das características distintivas dos escritos de Allan Kardec.

Abstendo-se das fórmulas abstractas da Metafísica, o autor soube fazer-se ler sem fadiga, condição essencial para a vulgarização de uma ideia. Sobre todos os pontos da controvérsia, sua argumentação, de uma lógica cerrada, oferece pouca margem à refutação e predispõe à convicção. As provas materiais que o Espiritismo oferece da existência da alma e da vida futura tendem à destruição das ideias materialistas e panteístas. Um dos mais fecundos princípios desta doutrina, que decorre do precedente, é o da pluralidade das existências, já entrevisto por uma porção de filósofos antigos e modernos e, nestes últimos tempos, por Jean Reynaud, Charles Fourier, Eugéne Sue e outros, mas permanecendo apenas em estado de hipótese e de sistema, ao passo que o Espiritismo demonstra a sua realidade e prova que é um dos atributos essenciais da Humanidade. Deste princípio decorre a solução de todas as anomalias aparentes da vida humana, de todas as desigualdades intelectuais, morais e sociais. Assim, o homem sabe de onde vem, para onde vai, para o que está na Terra e porque sofre.

As ideias inatas se explicam pelos conhecimentos adquiridos em vidas anteriores; a marcha dos povos e da Humanidade, pela volta dos homens dos tempos passados, que revivem depois de haverem progredido; as simpatias e as antipatias, pela natureza das relações anteriores; essas relações, que ligam a grande família humana de todas as épocas, oferecem as próprias leis da Natureza, e não mais uma teoria, como base dos grandes princípios de fraternidade, de igualdade, de liberdade e de solidariedade universal.

Em vez do princípio: "fora da Igreja não há salvação", que alimenta a divisão e a animosidade entre as diversas seitas, e que tem feito correr tanto sangue, o Espiritismo tem por máxima: "fora da caridade não há salvação", isto é, a igualdade entre os homens perante Deus, a tolerância, a liberdade de consciência e a mútua benevolência.

Em vez da fé cega, que aniquila a liberdade de pensar, diz ele: "Não há fé inabalável senão aquela que pode olhar a razão face a face em todas as épocas da Humanidade. A fé necessita de uma base e esta base é a inteligência perfeita daquilo que se deve crer; para crer não basta ver, é necessário sobretudo compreender. A fé cega não é mais deste século; ora, é precisamente o dogma da fé cega que hoje faz o maior número de incrédulos, porque ela quer impor-se e exige a abdicação de uma das mais preciosas faculdades do homem: o raciocínio e o livre arbítrio". (O Evangelho Segundo o Espiritismo).

Trabalhador infatigável, sempre o primeiro e o último a postos, Allan Kardec sucumbiu a 31 de março de 1869, em meio aos preparativos de mudança de local, exigida pela extensão considerável de suas múltiplas ocupações. Numerosas obras em via de conclusão, ou que aguardavam o tempo oportuno para aparecerem, virão um dia provar, ainda mais, a extensão e o poder de suas concepções.

Morreu como viveu: trabalhando. Há longos anos sofria de uma moléstia do coração, que só podia ser combatida pelo repouso intelectual e alguma actividade material. Mas, inteiramente dedicado ao seu trabalho, recusava-se a tudo quanto pudesse tomar-lhe o tempo, em prejuízo de suas ocupações predilectas. Nele, como em todas as almas fortemente temperadas, a lâmina gastou a bainha.

O corpo tornava-se pesado e se recusava a servi-lo, mas o espírito, mais vivo, mais enérgico, mais fecundo, alargava cada vez mais o seu círculo de actividades.

Numa luta desigual, a matéria não podia resistir eternamente. Um dia foi vencida: o aneurisma rompeu-se e Allan Kardec caiu fulminado. Um homem deixava a Terra, mas um grande nome tomava lugar entre as ilustrações deste século, um grande Espírito ia retemperar-se no infinito, onde todos os que ele havia consolado e esclarecido impacientemente esperavam a sua chegada.

"A morte", dizia ele ainda recentemente, "a morte fere em golpes redobrados nas camadas ilustres!... A quem virá ela agora libertar?"

Ele foi, após tantos outros, retemperar-se no Espaço, buscar novos elementos para renovar o seu organismo gasto por uma vida de labores incessantes. Partiu com aqueles que serão os faróis da nova geração, para voltar em breve com eles a fim de continuar e concluir a obra deixada entre mãos devotadas.

O homem não existe mais; a alma, porém, ficará entre nós. É um protector seguro, uma luz a mais, um trabalhador infatigável que aumentou as Falanges do Espaço. Como na Terra, sem ferir a ninguém, a cada um saberá fazer ouvir os conselhos convenientes; dosará o zelo prematuro dos ardentes, ajudará os sinceros e os desinteressados e estimulará os mornos. Hoje ele vê e sabe tudo quanto previa ainda há pouco! Não mais está sujeito às incertezas, nem aos desfalecimentos. E nos fará partilhar da sua convicção, obrigando-nos a tocar a verdade com o dedo, indicando-nos o caminho, naquela linguagem clara, precisa, que o fez um padrão nos anais literários.

O homem não existe mais - repetimo-lo. Mas Allan Kardec é imortal e sua lembrança, seus trabalhos, seu Espírito estarão sempre com os que sustentarem, alto e firme, a bandeira que ele sempre soube fazer respeitar.

Uma individualidade poderosa construiu a obra; era o guia e a luz de todos. Na Terra, a obra tomará o lugar do indivíduo. Não nos uniremos em torno de Allan Kardec; estaremos unidos em torno do Espiritismo, tal qual ele o constituiu, e, por seus conselhos, sob sua influência, avançaremos a passos certos para as fases prometidas à Humanidade regenerada - (Transcrito da Revista Espírita, Maio, 1869).
A Codificação Espírita


O LIVRO DOS ESPÍRITOS (1857)

Com este livro, a 18 de Abril de 1857, raiou para o mundo a era espírita. Nele se cumpria a promessa evangélica do Consolador, do Paracleto ou Espírito de Verdade. Dizer isso equivale a afirmar que "O Livro dos Espíritos" é o código de uma nova fase da evolução humana. E é exactamente essa a sua posição na história do pensamento. Este não é um livro comum, que se pode ler de um dia para o outro e depois esquecer num canto da estante. Nosso dever é estudá-lo e meditá-lo, lendo-o e relendo-o constantemente.

Sobre este livro se ergue todo um edifício: o da doutrina espírita. Ela é a pedra fundamental do Espiritismo, o seu marco inicial. O Espiritismo surgiu com ele e com ele se propagou, com ele se impôs e consolidou no mundo. Antes deste livro não havia Espiritismo e nem mesmo esta palavra existia. Falava-se em Espiritualismo e Neo Espiritualismo, de maneira geral, vaga e nebulosa. Os fatos espíritas, que sempre existiram, eram interpretados das mais diversas maneiras. Mas, depois que Kardec o lançou à publicidade, "contendo os princípios da doutrina espírita", uma nova luz brilhou nos horizontes mentais do mundo.

Há uma sequência histórica que não podemos esquecer ao tomar este livro nas mãos. Quando o mundo se preparava para sair do caos das civilizações primitivas, apareceu Moisés, como o condutor de um povo destinado a traçar as linhas de um novo mundo e de suas mãos surgiu a Bíblia. Não foi Moisés quem a escreveu, mas foi ele o motivo central dessa primeira codificação do novo ciclo de revelações: o cristão. Mais tarde, quando a influência bíblica já havia modelado um povo, e quando este povo já se dispersava por todo o mundo gentio, espalhando a nova lei, apareceu Jesus: e das suas palavras, recolhidas pelos discípulos, surgiu o Evangelho.

A Bíblia é a codificação da primeira revelação cristã, o código hebraico em que se fundiram os princípios sagrados e as grandes lendas religiosas dos povos antigos. A grande síntese dos esforços da antiguidade em direcção ao espírito. Não é de admirar que se apresente muitas vezes assustadora e contraditória, para o homem moderno. O Evangelho é a codificação da segunda revelação cristã, a que brilha no centro da tríade dessas revelações, tendo na figura do Cristo o sol que ilumina as duas outras, que lança a sua luz sobre o passado e o futuro, estabelecendo entre ambos a conexão necessária. Mas assim como, na Bíblia, já se anunciava o Evangelho, também neste aparecia a predição de um novo código, o do Espírito de Verdade, como se vê em João, XIV. E o novo código surgiu pelas mãos de Allan Kardec, sob a orientação do Espírito de Verdade, no momento exacto em que o mundo se preparava para entrar numa fase superior do seu desenvolvimento.

Hegel, em suas lições de estética, mostra-nos as criações monstruosas da arte oriental, - figuras gigantescas, de duas cabeças e muitos braços e pernas, e outras formas diversas, - como a primeira tentativa do Belo para dominar a matéria e conseguir exprimir-se através dela. A matéria grosseira resiste à força do ideal, desfigurando-o nas suas representações. Mas acaba sendo dominada, e então aparecem no mundo as formas equilibradas e harmoniosas da arte clássica. Atingido, porém, o máximo de equilíbrio possível, o Belo mesmo rompe esse equilíbrio, nas formas românticas e modernas da arte, procurando superar o seu instrumento material, para melhor e mais livremente se exprimir. Essa grandiosa teoria hegeliana nos parece perfeitamente aplicável ao processo das revelações cristãs: das formas incongruentes a aterradoras da Bíblia, passamos ao equilíbrio clássico do Evangelho e, deste, à libertação espiritual de "O Livro dos Espíritos".

Cada fase da evolução humana se encerra com uma síntese conceptual de todas as suas realizações. A Bíblia é a síntese da antiguidade, como o Evangelho é a síntese do mundo greco-romano-judaico, e "O Livro dos Espíritos" a do mundo moderno. Mas cada síntese não traz em si tão somente os resultados da evolução realizada, porque encerra também os germes do futuro. E na síntese evangélica temos de considerar, sobretudo, a presença do Messias, como uma intervenção directa do Alto para a reorientação do pensamento terreno. É graças a essa intervenção que os princípios evangélicos passam directamente, sem necessidade de readaptações ou modificações, em sua pureza primitiva, para as páginas deste livro, como as vigas mestras da edificação da nova era - (José Herculano Pires, na introdução de O Livro dos Espíritos, edições Lake).


O LIVRO DOS MÉDIUNS (1861)

Assim como O Livro dos Espíritos teve uma edição inicial de contacto, ampliada definitivamente na segunda edição, também O Livro dos Médiuns foi precedido de um pequeno volume intitulado Instruções Práticas Sobre as Manifestações Espíritas. Publicado em 1858 esse pequeno volume foi substituído, em janeiro de 1861, pela primeira edição de O Livro dos Médiuns. A presente tradução foi feita da segunda edição, lançada por Didier & Cia. em 1862, sob revisão pessoal de Kardec: "com o concurso dos Espíritos e acrescida de grande número de novas instruções", como se lê no original francês. Foi essa a edição definitiva.

Com a preparação deste livro, Kardec considerou o Instruções Práticas superado. Seu desejo era que os espíritas estudassem mais a fundo o problema mediúnico, não ficando apenas nas informações iniciais daquele pequeno volume. Entretanto, 65 anos mais tarde, em 1923, Jean Meyer, que então presidia a Casa dos Espíritas, em Paris, achou conveniente lançar nova edição do Instruções Práticas. Essa edição despertou, no Brasil, o interesse de Cairbar Schutel, que depois dos necessários entendimentos com Meyer lançou entre nós, pela sua modesta e heróica editora de Matão, Estado de São Paulo, a primeira tradução brasileira da obra. Nova edição foi lançada em 1968 pela Casa Editora O Clarim, a mesma de Schutel, como parte das comemorações do primeiro centenário do nascimento de seu fundador. Instruções Práticas se impôs novamente ao meio espírita como um livro necessário, em virtude do seu carácter de síntese.

Apresentado por Kardec como continuação de O Livro dos Espíritos, este livro foi também considerado por ele como em grande parte obra deles, o que se pode verificar na Introdução. Os Espíritos o reviram, modificaram, acrescentando-lhe um número muito grande de observações e instruções do mais alto interesse. É o segundo volume da Codificação do Espiritismo e, como assinala Kardec, desenvolve a parte prática da doutrina. Por isso mesmo é o livro básico da Ciência Espírita, um tratado de mediunidade indispensável a todos os que se interessam pela boa realização de trabalhos mediúnicos e pelo desenvolvimento das pesquisas espíritas.

A tese fundamental deste livro é a existência do perispírito ou corpo energético dos Espíritos, elemento de ligação do espírito ao corpo material. Essa ligação, de tipo energético ou vibratório, é o princípio da mediunidade. Assim como o nosso espírito anima o nosso corpo através do perispírito, constituído em vida o que chamamos alma, os demais Espíritos, de mortos ou de vivos, podem influenciá-lo. Em sintonia com o nosso espírito podem mesmo utilizar-se de nosso corpo para as suas manifestações. Dessa maneira, a mediunidade é uma condição natural do homem, uma faculdade geral da espécie humana, que se revela em dois campos paralelos de fenómenos: os anímicos, decorrentes das actividades do nosso próprio espírito fora do condicionamento orgânico; e os espíritas, decorrentes das relações naturais do nosso espírito com outros Espíritos - (José Herculano Pires, na introdução de O Livro dos Médiuns, edições Lake).


O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (1864)

Este livro foi publicado, inicialmente, com o título de Imitação do Evangelho. Kardec explica o seguinte: "Mais tarde, por força das observações reiteradas do Sr. Didier e de outras pessoas, mudei-o para Evangelho Segundo o Espiritismo". Trata-se do desenvolvimento dos tópicos religiosos de O Livro dos Espíritos, e representa um manual de aplicação moral do Espiritismo.

A 9 de agosto de 1863, Kardec recebeu uma comunicação dos seus Guias, sobre a elaboração deste livro. A comunicação assinalava o seguinte: "Esse livro de doutrina terá influência considerável, porque explana questões de interesse capital... Não somente o mundo religioso encontrará nele as máximas de que necessita, como as nações em sua vida prática, dele haurirão instruções excelentes. Fizeste bem ao enfrentar as questões de elevada moral prática, do ponto de vista dos interesses gerais, dos interesses sociais e dos interesses religiosos".

Em comunicação posterior, a 14 de setembro de 1863, declaravam os Guias de Kardec: "Nossa acção, principalmente a do Espírito de Verdade, é constante ao teu redor, e de tal maneira, que não a podes negar. Assim, não entrarei em detalhes desnecessários sobre o plano da tua obra que, segundo os meus conselhos ocultos, modificaste tão ampla e completamente. E logo adiante acentuavam: "Com esta obra, o edifício começa a libertar-se dos andaimes e já podemos ver-lhe a cúpula a desenhar-se no horizonte".

Estas comunicações, cuja leitura completa pode ser feita em Obras Póstumas, revelam-nos a importância fundamental de O Evangelho Segundo o Espiritismo na Codificação Kardequiana. Enquanto O Livro dos Espíritos nos apresenta a filosofia Espírita em sua inteireza e O Livro do Médiuns a Ciência Espírita em seu desenvolvimento, este livro nos oferece a base e o roteiro da Religião Espírita.

Livro de cabeceira, de leitura diária obrigatória, de leitura preparatória de reuniões doutrinárias, deve ser encarado também como livro de estudo, para melhor compreensão da Doutrina. A comunicação do Espírito de Verdade, colocada como prefácio, deve ser lida atentamente pelos estudiosos, pois cada uma de suas frases tem um sentido mais profundo do que parece à primeira leitura.

A Introdução e o Capítulo I constituem verdadeiro estudo sobre a natureza, o sentido e a finalidade do Espiritismo. Devem ser estudados atenciosamente, e não apenas lidos. Formam uma peça de grande valor para a verdadeira compreensão de Doutrina - (José Herculano Pires, na introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo, edições Lake).


O CÉU E O INFERNO (1865)

Lendo-se este livro com atenção vê-se que a sua estrutura corresponde a um verdadeiro processo de julgamento. Na primeira parte temos a exposição dos fatos que o motivaram e a apreciação judiciosa, sempre serena, dos seus vários aspectos, com a devida acentuação dos casos de infracção da lei. Na segunda parte o depoimento das testemunhas. Cada uma delas caracteriza-se por sua posição no contexto processual. E diante dos confrontos necessários o juiz pronuncia a sua sentença definitiva, ao mesmo tempo enérgica e tocada de misericórdia. Estamos ante um tribunal divino. Os homens e suas instituições são acusados e pagam pelo que devem, mas agravantes e atenuantes são levados em consideração à luz de um critério superior.

A 30 de Setembro de 1863, como se pode ver em Obras Póstumas, Kardec recebeu dos Espíritos Superiores este aviso: "Chegou a hora de a Igreja prestar contas do depósito que lhe foi confiado, da maneira como praticou os ensinamentos do Cristo, do uso que fez de sua autoridade, enfim, do estado de incredulidade a que conduziu os espíritos". Esse julgamento começava com a preliminar constituída pelo Evangelho Segundo o Espiritismo e devia continuar com O Céu e o Inferno. Dentro de dois anos, em seu número de Setembro de 1865, a Revista Espírita publicaria em sua secção bibliográfica a notícia do lançamento do quarto livro de Codificação Espírita: O Céu e o Inferno. Faltava apenas A Gênese para completar a obra da Codificação da III Revelação.

Dois capítulos de O Céu e o Inferno foram publicados antecipadamente na Revista: o capítulo intitulado Da apreensão da morte, vigorosa peça de acusação, no número de Janeiro de 1865, e o capítulo Onde é o Céu, no número de Março do mesmo ano. Apareceram ambos como se fossem simples artigos para a Revista, mas o último trazia uma nota final anunciando que ambos pertenciam a uma "nova obra que o Sr. Allan Kardec publicará proximamente". Em Setembro a obra já aparece anunciada como à venda. Kardec declara que, não podendo elogiá-la nem criticá-la, a Revista se limitava a publicar um resumo do seu prefácio, revelando o seu conteúdo. Os capítulos antecipadamente publicados aparecem, o primeiro com o mesmo título com que saíra e o segundo com o título reduzido para O Céu.

Estava dado o golpe de misericórdia nos dogmas fundamentais da teologia do cristianismo formalista, tipo inegável de secretismo religioso com que o Cristianismo verdadeiro, essencial e não formal conseguira penetrar na massa impura do mundo e levedá-la à custa de enormes sacrifícios. Kardec reafirma o carácter científico do Espiritismo. Como ciência de observação a nova doutrina enfrenta o problema das penas e recompensas futuras à luz da História, estabelecendo comparações entre as idealizações do céu e do inferno nas religiões anteriores e nas religiões cristãs, revelando as raízes históricas, antropológicas, sociológicas e psicológicas dessas idealizações na formulação dos dogmas cristãos.
A comparação do inferno pagão com o inferno cristão é um dos mais eficazes trabalhos de mitologia comparada que se conhece. A mitologia cristã se revela mais grosseira e cruel que a pagã. Bastaria isso para justificar o Renascimento. O mergulho da humanidade no sorvedouro medieval levou a natureza humana a um retrocesso histórico só comparável ao do nazi fascismo em nosso tempo. Os intelectuais materialistas assustaram-se com o retrocesso do homem nos anos 40 do nosso século e puseram em dúvida a teoria da evolução. Se houvessem lido este livro de Kardec, saberiam que a evolução não se processa em linha recta; mas em ascensão espiralada.

Vemos assim que este livro de Kardec tem muito para ensinar, não só aos espíritas, mas também aos luminares da inteligência néo pagã que perdem o seu tempo combatendo e Espiritismo, como gregos e romanos combateram inutilmente o Cristianismo. O processo espírita se desenvolve na linha de sequência do processo cristão. A conversão do mundo ainda não se completou. Cabe ao Espiritismo dar-lhe a última demão, como desenvolvimento natural, histórico e profético do Cristianismo em nosso tempo.
A leitura e o estudo sistemático deste livro se impõem a espíritas e não espíritas, a todos os que realmente desejam compreender o sentido da vida humana na Terra.

Mesmo entre os espíritas este livro é quase desconhecido. A maioria dos que o conhecem nunca se inteirou do seu verdadeiro significado. Kardec nos dá nas suas páginas o balanço da evolução moral e espiritual da humanidade terrena até os nossos dias. Mas ao mesmo tempo estabelece as coordenadas da evolução futura. As penas e recompensas de após a morte saem do plano obscuro das superstições e do misticismo dogmático para a luz viva da análise racional e da pesquisa científica. É evidente que essa pesquisa não pode seguir o método das ciências de mensuração, pois o seu objectivo não é material, mas segue rigorosamente as exigências do espírito científico moderno e contemporâneo. O grave problema da continuidade da vida após a morte despe-se dos aparatos mitológicos para mostrar-se com a nudez da verdade à luz da razão esclarecida - (José Herculano Pires, na introdução de O Céu e o Inferno, edições Lake).


A GÊNESE (1868)

A primeira edição foi publicada em janeiro de 1868. Esta nova obra constitui um passo à frente, nas consequências e aplicações do Espiritismo. Conforme indica o seu título, ela tem por objecto o estudo de pontos até hoje interpretados de modos divergentes: A Gênese, os milagres e as predições, em suas relações com as novas leis que decorrem da observação dos fenómenos espíritas.

Dois elementos ou, se o preferem, duas forças regem o universo: o elemento espiritual e o elemento material; da acção simultânea desses dois princípios nascem fenómenos especiais que são naturalmente inexplicáveis, se fizermos abstracção de um dos dois, da mesma forma que a formação da água seria impossível se fossem abstraídos um de seus dois elementos constitutivos: o oxigénio e o hidrogénio.

O Espiritismo, demonstrando a existência do mundo espiritual e suas relações com o mundo material, nos dá a chave de uma multidão de fenómenos incompreendidos e considerados, por isso mesmo, inadmissíveis por uma certa classe de pensadores. Esses fatos são abundantes nas Escrituras e é pela falta de conhecimento das leis que os regem, que os comentadores dos dois campos opostos, movendo-se sem cessar no mesmo ciclo de ideias, uns fazendo abstracção dos dados positivos da Ciência, os outros, do princípio espiritual, não puderam atingir uma solução racional. Esta solução está na acção recíproca do espírito e da matéria. Ela tira, é verdade, à maior parte desses fatos, seu carácter sobrenatural; mas, o que será melhor: admiti-los como derivados das leis da Natureza ou rejeitá-los completamente? Sua rejeição absoluta arrasta a da própria base do edifício, ao passo que a sua admissão a tal título, não suprimindo senão os acessórios, deixa a base intacta. Eis porque o Espiritismo atrai tantas pessoas à crença de verdades até então consideradas utopias. Esta obra é, portanto, conforme temos dito, um complemento das aplicações do Espiritismo, segundo um ponto de vista especial. Seu material estava pronto ou pelo menos elaborado há muito tempo; mas o momento de publicá-la não tinha chegado ainda. Era necessário, antes de mais nada, que as ideias constitutivas de sua base tivessem chegado à maturidade e, de outro lado, atentar para a oportunidade das circunstâncias.

O Espiritismo não tem mistérios nem teorias secretas; tudo nele é revelado com clareza, para que cada um possa julgá-lo com conhecimento de causa; mas, cada coisa deve vir a seu tempo para vir com segurança. Uma solução dada superficialmente, antes da elucidação completa da interrogação, seria uma causa de retardamento, ao invés de realizar o progresso - (Introdução de A Gênese, edições Lake).
 


Bibliografia:
O Livro dos Espíritos (Allan Kardec)
O Livro dos Médiuns (Allan Kardec)
O Evangelho Segundo o Espiritismo (Allan Kardec)
O Céu e o Inferno (Allan Kardec)
A Gênese (Allan Kardec)

Nota: Este estudo é distribuído impresso em apostilas,
 pelo Grupo Espírita Bezerra de Menezes,
 São José do Rio Preto, SP, Brasil
 
 
 

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