Irmã Filomena

 

            O que sabemos historicamente sobre Santa Filomena, resume-se ao que foi descoberto nas catacumbas de Roma: uma jovem entre 13 e 15 anos, que morreu mártir pela fé.

            A revelação de sua vida foi feita de maneira extraordinária, tendo a Santa aparecido de maneira particular a três pessoas. Essa narrativa recebeu o "imprimatur" (autorização) da Congregação do Santo Ofício para divulgação. O relato mais detalhado, aqui reproduzido, foi concedido à Irmã Maria Luísa de Jesus:
 

            Santa Filomena era filha dos reis de um pequeno Estado da Grécia; como não lhes vinham filhos, ofereciam sacrifícios e preces constantemente a seus falsos deuses para consegui-los. Providencialmente, o médico do palácio, de nome Públio, era cristão.

            Penalizado pela cegueira espiritual de seus soberanos e inspirado pelo Divino Espírito Santo, falou-lhes da nossa Fé, garantindo-lhes que suas orações seriam ouvidas se abandonassem os falsos deuses e abraçassem a Religião Cristã.

            Impressionados com o que ouviram, e tocados pela Graça, resolveram receber o Baptismo, após o qual lhes nasceu uma linda filhinha no dia 10 de Janeiro do ano seguinte. Imediatamente, chamaram-na de Lumena ou luz, por ter nascido à luz da fé. Na pia baptismal deram-lhe o nome de Filomena, isto é, Filha da Luz, da Luz Divina que lhe iluminou a alma por meio desse Augusto Sacramento.

            O Papa Gregório XVI, tendo recebido o parecer favorável da Sagrada Congregação dos Ritos à canonização de Santa Filomena, elevou-a à honra dos altares, instituindo ofício próprio para o culto e a festa, proclamando-a "A Grande Taumaturga do Século XIX", "Padroeira do Rosário Vivo" e "Padroeira dos Filhos de Maria". As relíquias de Santa Filomena ainda são preservadas em Mugnano, na Itália.

            Aos cinco anos de idade recebeu pela primeira vez a Sagrada Comunhão e desde então lhe aumentavam os desejos de íntima união com o Divino Redentor, até que, na idade de 11 anos, a Ele se consagrou por voto de virgindade perpétua.

            Contava 13 anos quando seu pai foi ameaçado de uma injusta guerra pelo Imperador Diocleciano, obrigando-o a ir a Roma numa tentativa de paz. Acompanharam-no na viagem a esposa e a filha, que era de ambos inseparável. O Imperador os admitiu imediatamente à sua presença, para impor, sem dúvida, seus cruéis objectivos em relação à soberania da pequena Grécia. Mas ao ver a Princesa, tudo se mudou em sua mente doentia. A beleza da menina moça o encantou e de pronto concordou, não só com uma paz duradoura, mas com uma sincera amizade complementada com privilégios políticos e económicos, desde que lhe fosse dada a mão da linda princesinha por esposa. Seus pais sentiram-se aliviados e de imediato concordaram com a interessante proposta imperial.

            De regresso à Grécia, em lágrimas, declarou Santa Filomena, que tudo fizera para convencer seus pais a retirarem a aprovação dada a Diocleciano, que seu coração já pertencia a outro Senhor, o único Soberano, o Rei dos Reis, Nosso Senhor Jesus Cristo, a quem se consagrara por voto de virgindade quando completara 11 anos de idade. E que nada deste mundo, nem mesmo a morte, a impediria de cumprir sua promessa.

            Seus pais ficaram arrasados. Amavam-na demasiadamente e sabiam que tal recusa ao Imperador trar-lhes-ia, no mínimo, a morte da sua única e adorada filhinha, dor que certamente não teriam forças para suportar. Então, seu pai, com doçura, procurou convencê-la que seu voto, aos 11 anos, não tinha nenhum valor, porque nessa idade não podia dispor de si. Era um voto nulo.

            Fora esta, talvez, a parte mais difícil do seu martírio. Enquanto seu pai se esforçava por a dissuadir, sua mãe com o rosto encostado ao seu, banhava-o com abundantes lágrimas... Mas que fazer? Seu coração ansiava por encontrar-se com seu Celeste Esposo e, depois, era também por amor a eles - seus pais - que fazia aquele sacrifício, pois queria recebê-los, um dia, no Céu.

            Entretanto, seu pai, vendo esgotado todos os seus argumentos, aplicou o último recurso. Valeu-se de sua autoridade moral e legal. Disse que a forçaria a obedecer-lhe. Mas o bom Jesus não abandona quem a Ele se consagra de verdade. Dera-lhe forças para, sem ferir a susceptibilidade dos pais, permanecer irredutível.

            O Imperador considerou a recusa da jovem princesa como um pretexto de deslealdade ao Império e ordenou que a trouxessem a sua presença. Seus pais, antes de levá-la, atiraram-se aos seus pés e suplicaram-lhe que se apiedasse deles e do seu reino. Respondeu-lhes que o único reino pelo qual deveriam lutar era o Reino dos Céus, e que lá os esperaria. Encerrara aqui a primeira batalha do seu martírio.

 

            Chegada à presença do Imperador, este usou a mesma táctica do seu pai. Primeiramente, empregou todos os recursos possíveis para convencê-la a ser Imperatriz de Roma. Fez-lhe mil lisonjas e promessas, mas como seu esforço foi inútil, enfureceu-se, e ordenou que a encarcerassem nos subterrâneos do Palácio. Todavia, ia visitá-la diariamente na prisão, na esperança de, galanteando-a, conseguir quebrar sua resistência. Durante tais visitas, permitia que a aliviassem das correntes e lhe dessem um pouco de água e pão, Mas sem nada conseguir, retirava-se, cada vez mais enfurecido e ordenando que se lhe aumentassem as torturas.

            Impossível era que, uma frágil menina de apenas 13 anos, que vivera sempre cercada do máximo conforto e desvelo no Palácio de seus pais, resistir a tantas torturas, não fora a protecção especial que lhe dispensavam seu Divino Esposo e a Virgem Santíssima, os quais visivelmente encorajavam-na com frequentes aparições.

            Decorridos 37 dias em que se encontrava em tão lastimável estado, a Rainha do Céu lhe apareceu aureolada por uma deslumbrante luz, trazendo desta vez, em seus braços, o Deus Menino, e disse-lhe que, depois de mais três dias, iria ser retirada daquele cárcere, quando então teria que sofrer cruéis tormentos por amor ao seu Divino Filho. Tal aviso deixou a "Princesinha do Paraíso" apavorada. Mas a Celeste Rainha encorajou-a com as seguintes palavras:

 

            “Minha filha, tu me és mais querida acima de todas, porque trazes o meu nome e o do meu Filho. Tu te chamas Lumena. Meu Filho, teu Esposo, chama-se Luz, Estrela, Sol. E eu me chamo Aurora, Estrela, Luz, Sol. Serei o teu amparo. Agora é o momento transitório da fraqueza e da humilhação humanas; quando chegar, porém, a hora extrema do teu julgamento, da tua decisão ante os horríveis tormentos que te serão impostos, receberás a graça da divina força. Além do teu Anjo da Guarda, terás a teu lado o Arcanjo São Gabriel, cujo nome significa "a Força do Senhor". Quando eu estava na terra era ele o meu protector. Mandá-lo-ei agora àquela que é a minha mais querida filha.”

            Após tão maravilhosa visita, a Rainha dos Céus desapareceu deixando a jovem prisioneira reanimada, disposta mesmo a sofrer os maiores tormentos por amor ao Divino Filho de Maria que por ela dera a vida no madeiro da Cruz.

            Ao enlevo em que ficara pela presença da Mãe de Deus, juntara-se um celeste perfume com o qual a Excelsa Senhora a inebriara e que permaneceu no cárcere enquanto lá esteve prisioneira.

            Passados os três dias, cumpriu-se o que a Celeste Rainha anunciara. O Imperador vendo-se irremediavelmente derrotado pela firmeza da princesa, resolveu mandá-la torturar publicamente. O primeiro dos suplícios foi o dos açoites, acompanhado por horrorosas blasfémias. O corpo da menina ficou reduzido a uma única chaga e, já agonizante, foi a mesma atirada na escura prisão onde deveria exalar os últimos suspiros. Mas quando julgava haver chegado o momento de se apresentar ante seu Celeste Esposo, dois formosos Anjos lhe apareceram, ungiram seu dilacerado corpo com um bálsamo celeste e deixaram-na completamente curada.

 

            Na manhã seguinte, o Imperador, ao tomar conhecimento da assombrosa notícia, ordenou que a levassem à sua presença. Ao vê-la mais encantadora que nunca, desmanchou-se em lisonjas procurando convencê-la de que fora o deus Júpiter que a havia curado por destiná-la a ser Imperatriz de Roma.

            A Princesa Mártir repeliu firmemente o sofisma e respondeu ao tirano que seu Deus nada poderia fazer. Eram simples estátuas de matéria inerte, cujos ilusórios trunfos não passavam de frutos da imaginação doentia dos homens que os criaram. Advertiu-o que se despertasse e procurasse ver o único Deus existente, Criador do Universo, dos Anjos e dos homens, o Deus que os cristãos adoram e diante do qual também ele, Imperador, teria de comparecer um dia para prestar contas dos seus actos.

            Diocleciano, vendo-se mais uma vez derrotado, louco de raiva por não poder responder aos argumentos sensatos da princesinha cristã face à impotência dos deuses do Império, ordenou que lhe amarrassem uma âncora no pescoço e a lançassem no rio Tibre. Entretanto, o Divino Redentor veio em socorro da sua consagrada, confundindo seus inimigos e convertendo a muitos: no exacto momento em que a mesma estava sendo atirada no rio Tibre, dois Anjos apareceram, cortaram a corda que prendia a âncora, e a transportaram para a outra margem, sem que as águas lhe tocassem sequer as vestes.

            Esse grandioso milagre foi presenciado por centenas de pessoas, das quais muitas se converteram, inclusive os soldados que a lançaram no Tibre. O Imperador, porém, mais obstinado que Faraó, atribuiu o maravilhoso prodígio a algum poder mágico da menina, declarou-a feiticeira e ordenou que fosse arrastada pelas principais ruas da cidade e depois trespassada por setas. Mortalmente ferida, foi abandonada no cárcere como se já estivesse morta. Mas seu Celeste Esposo fê-la cair num sono reparador, despertando-a mais tarde completamente curada e mais formosa que nunca.

            O Imperador, no entanto, ao invés de se curvar ante a evidência do indiscutível poder do Deus único e verdadeiro, enfureceu-se ainda mais e ordenou que a flechassem ininterruptamente até ficar comprovadamente morta. Mas, que maravilha! Por mais que se esforçassem os arqueiros, nenhuma seta saiu dos respectivos arcos. Julgou ainda o Imperador, que tal fato se verificara em razão do forte poder mágico de que era possuidora a princesa, o qual só poderia ser vencido pelo fogo. Determinou então que todas as setas fossem colocadas numa fornalha até ficarem totalmente rubras. Mas o Divino Esposo da sua eleita fez com que as setas em brasa se voltassem contra os que as haviam lançado, seis dos quais tiveram morte instantânea.

            Esse extraordinário prodígio foi causa de numerosas conversões, passando o povo a reverenciar a fé e a reconhecer o ilimitado poder do Deus dos cristãos que tão bem protegia a sua mártir.

            Temendo o Imperador maiores consequências, e já bastante confuso, ordenou que a Princesa fosse imediatamente decapitada. Mas ainda desta vez nenhum poder teria o tirano, não fora a vontade do Altíssimo permitir a consumação do martírio, a fim de que a "Princesinha do Céu" - conforme a chamara a Virgem Santíssima - pudesse receber na Glória o prémio eterno da sua incondicional fidelidade a Cristo Jesus.

            Assim, a Virgem Mártir doou sua vida por amor ao divino Filho da Virgem Santíssima, transformando seu precioso sangue virginal em semente fecunda que haveria de gerar milhões de almas para o eterno serviço de Deus. Colheu a palma do martírio numa sexta-feira, às três horas da tarde, sendo 10 de Agosto o dia. 

 

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            Muitos Papas foram devotos de Santa Filomena. Entre eles, Pio IX, que no dia 7 de Novembro de 1849 celebrou a Santa Missa no altar onde estão as Santas Relíquias e, no dia 15 de Janeiro de 1857, concedeu ofício próprio com Missa. São Pio X, que em peregrinação a Mugnano doou à imagem da Virgem Mártir um riquíssimo anel. Leão XIII, que peregrinou ao Santuário de Mugnano duas vezes, e em 1884 aprovou, consagrou e indulgenciou o cordão de Santa Filomena.

            Depois de ser curada milagrosamente, a Venerável Pauline Jaricot insistiu para que o Papa Gregório XVI iniciasse o exame para a canonização de Santa Filomena, que já estava sendo conhecida como grande taumaturga.

            Gregório XVI, tendo recebido o parecer favorável da Sagrada Congregação dos Ritos à canonização de Santa Filomena, elevou-a à honra dos altares, instituindo ofício próprio para o culto e a festa, proclamando-a A Grande Taumaturga do Século XIX, Padroeira do Rosário Vivo e Padroeira dos Filhos de Maria.

            As relíquias de Santa Filomena ainda são preservadas em Mugnano, na Itália.

 

 

                                    

                                                                                                                                          

                                                                                                                                                         

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